quarta-feira, 7 de junho de 2017

SR. JOAQUIM, 90 ANOS


Sim, ele faria 90 anos se não tivesse partido no dia 31 de Maio do ano passado. Sr. Joaquim, 90 anos.

Uma pessoa simples, alegre, batalhadora... Palavras comuns para definir um grande homem. Homem de muitos orgulhos...

Orgulho de, aos 80, 85, 86, 87, 88 anos, jamais ter sido internado. Só conhecia hospital porque visitava doentes, principalmente os filhos. Orgulho por ter criado dez filhos, todos encaminhados na vida, em contraponto à frase introdutória da famosa música sertaneja “Couro de Boi”: “Há ditado que vem desde o tempo do zagai. Um pai trata de dez filhos. Dez filhos não tratam de um pai”. De fato os filhos na descuidaram dele. Mesmo resmungando era levado frequentemente aos médicos. Tomava religiosamente os remédios. Não se sabe se corretamente, pois isso  ele não permitia, a interferência em sua rotina.

Num determinado Domingo de maio de 2016, no final da tarde, procurou um chá em razão de uma dor no.peito. Fátima, sua nora lhe disse: “Sr. Joaquim... Dor no peito não se cura com chá. Zezinho leve-o ao médico”. Fátima fez um alerta no WhatsApp e logo sua filha Eugênia apareceu e o levou ao Pronto Atendimento do convênio. Exames iniciais, apreensão, encaminhamento ao hospital, UTI. Necessidade de cateterismo e o alerta do médico: “Ele tem três fatores de risco: a idade, o diabetes e a hipertensão...” O exame, a paralisia dos rins, a hemodiálise, a primeira parada cardíaca, a segunda e definitiva parada.

No seu velório cinco padres e fala do padre João Alves, com quem conviveu por 12 anos: “Ele tinha três grandes amores, a Família, a Igreja e Nossa Senhora”. Sr Joaquim faleceu no mês de Nossa Senhora e foi coroá-la pessoalmente.

Católico convicto rezava o terço todos os dias na Igreja. E quando recebia a imagem da Mãe Rainha, mensalmente, fazia questão de suspender as atividades para a reza do terço. Colocava muita emoção nas orações de acolhida e despedida da imagem.

Gostava de estar cercado por gente, principalmente pelos filhos e pelos netos. Adorava as datas comemorativas (aniversários, dia das mães, dos pais, Natal, etc.) Gostava de anedotas, como as das velhinhas na igreja, quando chegaram mos artista de circo... E de frases como estas: “Melhor  ser rico e com saúde do que pobre e doente” e “Quero que o mundo acabe em açúcar, pois eu quero morrer doce”.

Quando parou de trabalhar desejou voltar para a roça. Não deu, Por ocasião da ordenação sacerdotal de seu filho Calu, o Pe. André, então Pároco,  o chamou para servir à Igreja. Foi o divisor de águas. Foi Ministro da Eucaristia, e líder de CEB (Comunidade de Eclesial de Base). Foram históricas as celebrações da Via Sacra nas ruas, com a participação de seu genro, diácono Geraldo Bueno.

Oriundo da zona rural, vivenciou a experiência do trabalho bruto, trabalho que pretendia retomar com a aposentadoria. Não deu, mas não deixou de frequentar a roça, onde se transformava num menino. E, ainda assim essa rudeza não tirava a sensibilidade de seus dedos quando pegava o violão e dedilhava as canções que mais gostava, como “Luar do Sertão”, “Noite cheia de estrelas”, “Cisne Branco”, e tantas outras.

Pai exemplar, marido fiel, alegre sempre, acolhedor, caridoso, sério quando necessário. Seus últimos dias antes da internação foram de ansiedade ao ver o estado de saúde de sua esposa, Pedrina, piorar irreversivelmente.

Sr. Joaquim faria 90 anos neste sete de Junho. Uma data histórica. Mas o céu está em festa e ele se esbaldando entre os velhos amigos. Haja histórias e reminiscências. Por aqui a saudade é do tamanho do vazio que ficou.

E resta o consolo da certeza de que ele está bem.



Imagem: arquivo do blog

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