A aurora ainda
lembrava a chuva intermitente do dia anterior e parte da noite. A frente fria,
em dissipação, trazia em sua retaguarda muito ar frio.
O repórter
despertou de uma noite aconchegante, povoada de sonhos e preocupações quanto ao
futuro. Ao sentir o sol tímido penetrando pelas frestas da janela, levantou-se
depressa, fez o lanche matinal, arrumou-se e, antes de sair, olhou fixamente
para a santinha de sua devoção, emoldurada na parede da sala. Nada disse, apenas
imaginou a possibilidade de realizar nesse dia uma grande reportagem que o
consagrasse definitivamente na equipe do jornal.
A santinha
olhava-o candidamente, como a lhe dizer: “Vai
filho, vai, realiza teus sonhos...”
Já na rua, a brisa
gelava-lhe o rosto. Passou a caminhar pela cidade que iniciava a faina diária,
em direção da redação do jornal. Perdido em pensamentos, na praça principal,
quase tropeçou num menino que, sentado na areia ainda úmida, cabisbaixo, fazia
sulcos no chão, com os dedos.
- Que e isso, garoto? O que faz aqui, neste
frio? Perguntou.
- Nada, não. Estou esperando Deus...
- Como? Esperando Deus?
- É. Estou esperando Deus. Minha mãe morreu esta semana, mas
antes me disse para não me preocupar, porque Deus cuidaria de mim...
Nesse instante, um
homem aproximou-se e dizendo que procurava o menino há algum tempo, tomou-lhe
pela mão e o levou embora.
O sol já quente,
os pardais ativos, o buzinaço, o vai-e-vem anônimo, faziam a rotina de mais um
dia. Ele, o repórter, ali estático, observava o homem e o menino perderem-se
pelos labirintos da cidade, pelos meandros da vida.
O olhar da
santinha... O Deus que veio... Os meandros da vida...
Assim nasceu a sua
grande reportagem!
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