domingo, 1 de janeiro de 2017

PEDRINA, MAIS QUE UMA PEQUENA PEDRA, UMA GUERREIRA


(Um depoimento de José Gonçalves dos Santos)

No dia 22 de Dezembro de 2016 deixou este mundo D. Pedrina Gonçalves Santos (completaria 85 anos em Fevereiro), minha mãe, após uma enfermidade degenerativa, chamada “Demência Senil”, internada com pneumonia, contra a qual não pôde reagir devido, provavelmente, a sua debilidade.

Mais que a dor da perda, mais que a dor da saudade, mais que a dor das circunstâncias de se lidar com os procedimentos do desenlace de uma pessoa querida, o reconhecimento de uma vida longa de uma mulher do tipo mignon, com a fortaleza de um gigante. Gerou onze filhos, nascidos em partos normais. Um deles faleceu ainda em tenra idade. Todos os dez, entre os quais uma única mulher, estavam entrelaçados em torno dela logo após a missa de corpo presente. Sempre foi assim: os filhos por perto, em eventos como aniversários, confraternizações de finais de ano (Meu pai sempre fez questão de comemorar o aniversário de seu casamento)... A maioria sempre esteve presente.

D. Pedrina, nome pouco comum, de origem rural, veio para a cidade, já casada e com alguns filhos, não sei bem quantos, tinha educação formal. Lia e escrevia pouco. Gostava de revistas com fotos coloridas, admirando as moças e rapazes bem vestidos e prestava bem atenção nos penteados. Por um tempo passou a gostar de ouvir basquete no rádio. Dizia que era um esporte movimentado e rápido, especialmente quando estava em quadra a Seleção Brasileira de Ubiratan, Vlamir, Nilo Pedro Yves, Guerrinha e outros.

Foi um tempo bom, quando em casa não tínhamos televisão. À noite meu pai ouvia “Moraes Sarmento” e de dia eu e ela acompanhávamos as novelas da Rádio Aparecida. Foi nesse tempo que conhecemos a vida e a obra de Santo Afonso Maria de Ligório, fundador dos Redentoristas. Não perdíamos o programa “Marreta na Bigorna”, comentários doutrinários do Pe. Rubens Lemes Galvão. Foi um mulher antenada (do seu jeito).

Visionária, sem a real intenção de sê-lo, jamais interferiu nas escolhas educacionais e profissionais de seus filhos, embora soubesse da importância do estudo e da formação profissional. Tinha orgulho daqueles que fizeram, por exemplo, o SENAI. Assim, seus filhos tiveram formações diferentes: Professor de História, Professor de Geografia, Bacharel em Administração e Professor de inglês, outro que embora não tenha feito a universidade, construiu sua vida em trabalhos burocráticos, mas falando inglês fluente. Também teve mecânico de automóvel, marceneiro e especialista em Qualidade Empresarial, Mecânico de Manutenção Industrial e Padre Missionário, um dos seus orgulhos poucas vezes manifestado. Portanto, todos os filhos “arrumados” na vida.

Interessante: não ia nunca se deitar enquanto o último filho não chegasse da rua. E eu particularmente, quando estudava à noite, era ela quem ia me acordar para “dormir na cama”. Estava, literalmente, “babando” sobre os livros”.

Ótima piloto de fogão, especialmente nos pudins de leite condensado. Ah! O frango caipira, a macarronada, a quirerinha, o arroz doce, o doce de abóbora. Há muito que falar sobre ela. Não há espaço. Os irmãos estão colocando nas redes sociais outras informações sobre esta “joia” rara.

Sim, porque Pedrina significa pequena pedra, uma joia, uma joia rara... Tudo combina com minha mãe. Pequena, forte, teimosa, não chata. Com alguns defeitos. Portanto não era perfeita. Mas se fazia respeitar.

Seus últimos dias foram sofridos, comoventes. Com o seu sofrimento deixou a forte lição da paciência, do cuidado, da solidariedade, do esforço para a leitura corporal, únicas maneiras para compreender o outro, especialmente quando esse “outro” é nada mais nada menos que a nossa mãe, idosa, demente senil, que dia pós dia vai perdendo seus movimentos, sua comunicação verbal, sua capacidade até de se alimentar.

Apesar da fragilização constante e crescente, lutou muito pela vida. Deus a chamou para o repouso eterno e merecido.



Imagem: da família.

3 comentários:

  1. Meu Querido "Brother", Mestre, Professor, Escritor José Gonçalves, vulgo Zézinho,
    Não tenho palavras para expressar a o quanto me sinto feliz e contemplado ao ler esta grandiosa, magnífica, rica nos detalhes e ao mesmo tempo singela homenagem a nossa Rainha e nossa MÃE, a Dona Pedrina.
    G-R-A-T-I-D-Ã-O

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  2. Valeu meu irmão... As palavras foram brotando do coração.

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  3. Texto comovente. Não esqueceremos a pequena pedra!

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