Saborear
pés, pescoços e costelas de frango caipira, com as mãos, sem pressa, jogando
conversa fora, é tudo de bom!
Coisas
simples da vida... Mas restritas a uma parcela das pessoas que viveram ou vivem
no interior, na zona rural. Coisas simples como comer frango (ou galinha
caipira, ou matuta), é bem diferente do frango de granja, consumido nas áreas
urbanas.
Nas
granjas as aves são industrializadas, alimentadas com ração balanceada, muitas
delas carregadas de hormônios, especialmente para o seu rápido crescimento. Já
na zona rural elas são alimentadas naturalmente, sendo o milho a base. Os
gostos, os sabores, as técnicas de cozimento são completamente diferentes... E
o tempero caseiro?!.
Nas
cidades consomem-se as partes nobres do franco: o peito, as coxas e as sobre-coxas.
Desprezam-se os pés, os pescoços, as costelas, as s e os miúdos. Estes algumas
vezes utilizados para as farofas.
Porém,
um dos grandes segredos das coisas simples e boas da vida no campo é mesmo o
“saborear” o frango caipira com as mãos, desprezando o modus faciendi
urbanus... Sim com as mãos, sem pressa de terminar, em família, jogando
conversa fora, contando e ouvindo piadas, ainda que repetidas. Claro, com
arroz, feijão, macarrão, farofa, e outras cozitas más.
O
importante é o momento, a convivência, o relacionamento. Que tenha cerveja,
caipirinha, ou suco natural de laranja ou limão, ou de melancia ou abacaxi. Há
um “quê” de místico, de romântico, de algo que vai se perder no tempo, pois são
momentos que certamente não mais se repetirão.
No esgarçar
dos dedos dos pés, com aquele “courinho”, no debulhar das pequenas vértebras do
pescoço, depois de extrair-lhe o sangue acumulado, no destrinchamento de cada
uma das costelas e aproveitar, entre uma gargalhada e outra, seus fiapos de
carne, o lamber os beiços (ou lábios) e os dedos... A vida flui, os sentimentos
afloram, as amizades e os amores se consolidam....
Pés,
pescoços e costelas de frango caipira convidam, também à reflexão. O ato de
comê-los livre das peias das etiquetas abre as portas do pensamento para as
questões como a saudade, a família, os projetos de vida, o silêncio, a paz, a
introspecção. Daí pode surgir uma nova pessoa; ou uma pessoa nova, reavivada
pelo reencontro, pelo perdão, pelo acolhimento.
Momentos
únicos, porém absolutamente necessários para o desenvolvimento da vida... Há
quem não foste de frango caipira. Respeite-se... Há quem tenha medo do
reencontro consigo mesmo, que só o ‘saboreio” sossegado dos pés, pescoços e
costelas, proporciona.
Tudo de
na vida acontece a partir de atitudes e atos de coragem. Sentar-se à mesa,
deixar de lado a timidez, as boas maneiras, as etiquetas, e meter a mão no
frango e ter dedos e lábios e parte do rosto e o queixo engordurados é uma
superação. Tirar proveito desses momentos mágicos é, também, uma grande
vitória.
Feliz
aquele que não rompeu com suas origens. Feliz daquele que ainda pode viajar no
tempo segurando nas mãos aqueles ossinhos saborosos e muito bem temperados com
pitadas eloquentes de amor.
Coisas
simples da vida...
Imagem:
Google
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