(Um
depoimento de José Gonçalves dos Santos)
No dia
22 de Dezembro de 2016 deixou este mundo D. Pedrina Gonçalves Santos
(completaria 85 anos em Fevereiro), minha mãe, após uma enfermidade
degenerativa, chamada “Demência Senil”, internada com pneumonia, contra a qual
não pôde reagir devido, provavelmente, a sua debilidade.
Mais
que a dor da perda, mais que a dor da saudade, mais que a dor das
circunstâncias de se lidar com os procedimentos do desenlace de uma pessoa
querida, o reconhecimento de uma vida longa de uma mulher do tipo mignon, com a
fortaleza de um gigante. Gerou onze filhos, nascidos em partos normais. Um
deles faleceu ainda em tenra idade. Todos os dez, entre os quais uma única
mulher, estavam entrelaçados em torno dela logo após a missa de corpo presente.
Sempre foi assim: os filhos por perto, em eventos como aniversários, confraternizações
de finais de ano (Meu pai sempre fez questão de comemorar o aniversário de seu
casamento)... A maioria sempre esteve presente.
D.
Pedrina, nome pouco comum, de origem rural, veio para a cidade, já casada e com
alguns filhos, não sei bem quantos, tinha educação formal. Lia e escrevia pouco.
Gostava de revistas com fotos coloridas, admirando as moças e rapazes bem
vestidos e prestava bem atenção nos penteados. Por um tempo passou a gostar de
ouvir basquete no rádio. Dizia que era um esporte movimentado e rápido,
especialmente quando estava em quadra a Seleção Brasileira de Ubiratan, Vlamir,
Nilo Pedro Yves, Guerrinha e outros.
Foi um
tempo bom, quando em casa não tínhamos televisão. À noite meu pai ouvia “Moraes
Sarmento” e de dia eu e ela acompanhávamos as novelas da Rádio Aparecida. Foi
nesse tempo que conhecemos a vida e a obra de Santo Afonso Maria de Ligório, fundador
dos Redentoristas. Não perdíamos o programa “Marreta na Bigorna”, comentários
doutrinários do Pe. Rubens Lemes Galvão. Foi um mulher antenada (do seu jeito).
Visionária,
sem a real intenção de sê-lo, jamais interferiu nas escolhas educacionais e
profissionais de seus filhos, embora soubesse da importância do estudo e da
formação profissional. Tinha orgulho daqueles que fizeram, por exemplo, o
SENAI. Assim, seus filhos tiveram formações diferentes: Professor de História,
Professor de Geografia, Bacharel em Administração e Professor de inglês, outro
que embora não tenha feito a universidade, construiu sua vida em trabalhos
burocráticos, mas falando inglês fluente. Também teve mecânico de automóvel,
marceneiro e especialista em Qualidade Empresarial, Mecânico de Manutenção
Industrial e Padre Missionário, um dos seus orgulhos poucas vezes manifestado.
Portanto, todos os filhos “arrumados” na vida.
Interessante:
não ia nunca se deitar enquanto o último filho não chegasse da rua. E eu
particularmente, quando estudava à noite, era ela quem ia me acordar para “dormir
na cama”. Estava, literalmente, “babando” sobre os livros”.
Ótima
piloto de fogão, especialmente nos pudins de leite condensado. Ah! O frango
caipira, a macarronada, a quirerinha, o arroz doce, o doce de abóbora. Há muito
que falar sobre ela. Não há espaço. Os irmãos estão colocando nas redes sociais
outras informações sobre esta “joia” rara.
Sim,
porque Pedrina significa pequena pedra, uma joia, uma joia rara... Tudo combina
com minha mãe. Pequena, forte, teimosa, não chata. Com alguns defeitos. Portanto
não era perfeita. Mas se fazia respeitar.
Seus
últimos dias foram sofridos, comoventes. Com o seu sofrimento deixou a forte
lição da paciência, do cuidado, da solidariedade, do esforço para a leitura
corporal, únicas maneiras para compreender o outro, especialmente quando esse
“outro” é nada mais nada menos que a nossa mãe, idosa, demente senil, que dia
pós dia vai perdendo seus movimentos, sua comunicação verbal, sua capacidade
até de se alimentar.
Apesar
da fragilização constante e crescente, lutou muito pela vida. Deus a chamou
para o repouso eterno e merecido.
Imagem:
da família.
Meu Querido "Brother", Mestre, Professor, Escritor José Gonçalves, vulgo Zézinho,
ResponderExcluirNão tenho palavras para expressar a o quanto me sinto feliz e contemplado ao ler esta grandiosa, magnífica, rica nos detalhes e ao mesmo tempo singela homenagem a nossa Rainha e nossa MÃE, a Dona Pedrina.
G-R-A-T-I-D-Ã-O
Valeu meu irmão... As palavras foram brotando do coração.
ResponderExcluirTexto comovente. Não esqueceremos a pequena pedra!
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