sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A EXPLOSÃO DE LUZ


Ele e seus companheiros ainda estão lá. Calmos, ao sabor do vento, tranquilos, aquecendo-se ao sol ou alegrando-se com a chuva. Preocupados quando o frio é demais; Temem as geadas, que lhes queimam as folhas, comprometendo-lhe a vida. Não são bonitos.

Por isso eu não os percebia nas minhas idas e vindas, agitada pelo cotidiano do trabalho. Preocupações muitas, gente falando, exigindo, prazos a cumprir, rotina e mais rotina. Coleguismo mais que amizade.

Por eles passavam outras tantas pessoas que igualmente não os percebiam. Gente bonita, outras nem tanto, altos e baixos executivos, visitantes, mensageiros, operários... Arrogantes, sofisticados, egoístas, alegres, tristes, ensimesmados ou expansivos. Nada esperavam dessas pessoas. Ouviam os choramingos de alguns em relação à sujeira que ele e seus companheiros faziam quando o outono (a estação das folhas caídas) chegava. Por isso, de atenção pouco ou nada recebiam. Carinho, só do jardineiro que arrancava as ervas daninhas do gramado que formava o tapete de seus entornos.

O tempo passava. Outono, inverno, primavera e verão, se sucediam. Eles continuavam passivamente emoldurando o painel de gente passageira.

E aconteceu o espetáculo... Fim de inverno, secura, grama amarelada, fuligem de queimadas enegrecendo o chão. Ventania que levantava a poeira, incomodando aquela gente chique e causava manchas amareladas nos punhos e colarinhos dos executivos de primeira viagem. E eu testemunhei aquela explosão. Em cadeia, em silêncio, mas extraordinariamente significativa e humanamente divina: o que se repetia anualmente naquela mesma semana (e ninguém percebia) aconteceu e encheu-me os olhos e iluminou-me a alma: todos os ipês lilás floriram! Um espetáculo de vida! Um show de luz! Uma beleza incrível!

Os ipês lilás floridos... Vida que se potencializa... Recados divinos que chegam através da natureza.

Aprendi a ver não apenas aqueles ipês lilás. De repente outros ipês estavam floridos... Amarelos, vermelhos, brancos! E outras flores se abriam no jardim. De repente vi a natureza toda colorida, viva. Os jardins têm seus jardineiros. A natureza é auto-suficiente (tem seu potencial programado por Deus) e mesmo assim não é menos florida, menos iluminada, menos iluminadora, menos linda!

Aprendi a ver para além da simples aparência. Aprendi a perceber as potencialidades, não só da natureza, mas também das pessoas. Tornei-me uma pessoa melhor, mais aberta para a vida. Deus falou comigo!

Os ipês lilás continuam lá. Impassíveis, firmes, ao sabor do vento, do calor da chuva, não sei se percebidos ou não pelos passantes. Parecem tristes, mas não estão tristes. Estão, como toda a natureza, apenas gestando o próximo espetáculo.

Primavera... Seja bem-vinda!



Nenhum comentário:

Postar um comentário