terça-feira, 24 de setembro de 2013

O PALHAÇO

Lá estava ele no alto da carroçaria do caminhão, sacolejando devido aos buracos da estrada. Junto de suas tralhas, mantinha-se como sentinela, contemplando, à medida do possível,  a paisagem que se descortinava à sua frente. Estava acostumado com os solavancos, por isso não enjoava. De repente uma ponte, não muito grande, depois da ponte uma curva (aprendera que após uma pequena ponte, apareceria uma cidade pequena; uma grande ponte, uma cidade grande)
- Oba! Uma cidade não muito grande... Vai dar para fazer uma festa mais ou menos. Acelera motorista, quero chegar logo! O palhaço esta pronto para fazer a alegria do povo.

Assim é a vida do palhaço... fazer a alegria do povo. E como é a vida do palhaço? Ele tem família? Ele ama? Ele tem saudade?

Eis que a cidade aparece no horizonte. Mais que depressa aciona o megafone.
- Alô, Alô, gente querida, o circo chegou.... O palhaço também..... É tempo de alegria! Hoje tem espetáculo? Tem, sim, senhor!

E nem havia chegado à cidade ainda.... E continuou sua entusiasmada gritaria...

O palhaço é um ser humano. Tem seus sentimentos.... Tem suas expectativas, seus sonhos, seus projetos, mas precisa trabalhar. As palhaçadas têm que acontecer. O povo está lá para vê-lo, Pagou seu ingresso ou vai dar sua contribuição.  Não está nem aí se o palhaço tem lá suas tristezas, suas frustrações. O palhaço não pode chorar. Corre o risco de macular a maquiagem. E pior, levar uma vaia.

- Alô, Alô, gente querida, o circo chegou..... O palhaço também..... É tempo de alegria! Hoje tem espetáculo? Tem, sim, senhor!
- E o palhaço o que é? É ladrão de mulher!....

Já na cidade, o ruído estridente do megafone sacudiu a cidade. Já havia uma procissão atrás do caminhão que trafegava lentamente. O palhaço se encheu de alegria...

O primeiro espetáculo foi muito bom. O segundo foi bom. O terceiro também. Mas nos seguintes o público foi diminuindo, diminuindo.... até o que o frio na barriga do palhaço e sua equipe anunciou que havia chegado a hora de partir. Aquela cidade de tamanho mais ou menos, retomou seu marasmo e o circo virou passado. Para o palhaço e seu circo, a estrada, a esperança da próxima ponte, da próxima curva.

De palhaço e bobo, todos nós temos um pouco. Usamos máscaras, às vezes não podemos chorar para não estragar a maquiagem. A vida só nos pede sorrisos.

Temos o mesmo frio na barriga, quando sentimos que não estamos agradando e que precisamos “baixar a bola” e sair de cena. E buscarmos uma próxima ponte, uma próxima curva. A busca do palhaço está na estrada, A nossa busca é uma introspecção, com pontes, curvas e cidades, sinônimos de reavaliações e decisões a serem tomadas.

A vida é um palco... E no palco da vida chora menos quem melhor sabe sorrir.





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