sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A MOLDURA DE UM QUADRO VAZIO



Conta-se que Clara de Assis, estava, numa certa tarde, muito triste. Suas companheiras, preocupadas. Aproximaram-se dela e a indagaram sobre a razão do abatimento. Disse ela:

- Estou com saudade de Francisco!

Imediatamente, antes do cair da tarde os companheiros de Clara foram ter com os irmãos de Francisco que, sabendo do interesse de Clara, conversaram com ele e acertaram um jantar, ainda para aquela noite, no convento onde os rapazes moravam.

E assim aconteceu. Antes, durante e depois do jantar Francisco e Clara conversaram animada e intensamente. Mas algo diferente ocorreu naqueles momentos...

De repente, todas as atenções da cidade de Assis se voltaram para a região onde ficava a casa de Francisco. Um fogaréu muito forte parecia emergir daquele bosque, preocupando toda a população que acorreu para o local. Ao chegar, nada viram, senão os jovens que conversavam singelamente.

Não sei se essa historia é verdadeira, mas acho ser esse  o sentido de uma amizade intensa e sincera: Deus dela participa e por isso ela emociona!

Foi o que aconteceu com aqueles amigos...

Final do ano letivo, sala vazia. Lá fora o burburinho da vida que seguia seu rumo natural. A porta aberta parecia uma moldura de um quadro sem paisagem. No fundo apenas o escuro da noite.

Mergulhado nos afazeres ele não se dava conta no que aconteceria nos momentos que se seguiram. De repente ela apareceu à porta e ele a percebeu estática, apenas olhando para o interior da sala, mas numa posição que indicava a intenção de seguir em frente. Surpreso pelo inesperado da cena, disse ele:

- Pode entrar... A casa é sua!

E ela entrou. Iniciou-se um diálogo que não durou muito, mas digno dos encontros dos Santos de Assis (Clara e Francisco), tal a intensidade da relação de amizade que ali se instalou.

Falaram das perdas que a vida impõe, do passado, do futuro, da solidão de amigos, do rompimento dos círculos que amarram as pessoas ao cotidiano.

Choraram. Choraram lágrimas contidas, envergonhadas, mas sinceras, revelando pureza de sentimento, honestidade de propósitos.

Não houve culpas nem culpados... Nem despedidas, e sim a convicção de que marcas indeléveis ficaram para sempre em suas almas.

Por isso é preciso estar atento às pequenas coisas, aos detalhes, que somando formam um grande painel, o painel da vida, que longa para quem sofre, é curta demais para vivenciar a felicidade.

Vale mais a qualidade do tempo que se está ou vive feliz que a quantidade do tempo em que se busca essa felicidade aleatoriamente, pois as ausências são inexoráveis, os encontros jamais se repetirão. As vidas jamais serão as mesmas.

Aquela porta continua emoldurando um quadro jamais preenchido. O fundo escuro contrasta com vazio da sala.



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