quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

UM CAFÉ PARA A HISTÓRIA


Zona rural... Pequenas fazendas, sítios e chácaras... Os proprietários, na maioria dos casos, residem nas cidades e deixam em suas propriedades colonos e empregados que cuidam principalmente dos animais que são fontes de leite, carnes e rendas provenientes de compra, venda e trocas.

Mas, há uma característica fundamental entre as pessoas que trabalham no campo, em especial nessas propriedades: o sentido de união, de colaboração, de ajuda mútua, de solidariedade. Parece que os vícios e os defeitos da vida urbana ainda não chegaram por lá.

A história narrada a seguir foi baseada em fatos reais, mas os nomes foram trocados...

Jorge e Dito ensilaram seus cavalos logo de manhã e partiram para as montanhas providenciar transferências de gado de um pasto para outro. Algo comum na região.

No aminho passaram num sítio onde Fernando trabalhava e resolveram visitá-lo e, eventualmente, tomar um café. E assim fizeram.
- Bons dias...
- Ei moçada, que bom vocês por aqui. Cheguem...

Chegaram... Conversa vai, conversa vem... E sobre a mesa o bule, provavelmente com café. No fogão a lenha, uma leiteira, onde era visível a quantidade de nata, algo que Dito detestava.

Jorge, o mais saído, foi ao ataque...
- E então, Fernando... Tem café naquele bule?
- Tem sim, não é novo (má notícia), mas pode beber. Tem leite na taipa...

E então surgiu o problema. O café era muito “velho” e o leite fervido várias vezes. Jorge resolveu topar a parada. Dito, teve muitas dificuldades.  Só em ver café muito forte, frio, envelhecido, de um negrume só e o leite todo engordurado, teve um nó na garganta e um arrepio no corpo. Mas seguiu o seu amigo no gesto corajoso de tomarr aquela “mortal  explosiva mistura”.

Vale lembrar que Jorge e Dito, apesar estarem sempre no sertão residem na cidade e onde têm atividades profissionais e estão pouco afeitos e adaptados às rudezas do sertão... Mas tentam fazer por onde...

Entre conversas e risadas os goles de café... E o sofrimento de ambos. Pior era o desarranjo intestinal que poderia sobrevir. Jorge ria muito por dentro, só em pensar nessas  possibilidades.

Para se ter a ideia da “qualidade” do café, quando foi colocado no copo (de requeijão), a última gota escorreu pelo bico do bule como uma geléia ou uma goma qualquer... Colou literalmente o bule no plástico da mesa. E aquilo foi parar nos estômagos e intestinos dos amigos visitantes.

A permanência (como de costume) durou um pouco mais além do tempo necessário para que Jorge e Dito “saboreassem” o café oferecido por Fernando.

Despediram-se com a alegria que fundamenta as verdadeiras amizades campesinas... E lá se foram os amigos montanha acima. 

No ritmo do trotear dos cavalos, o movimento e os ruídos intestinais... A cada árvore, uma possibilidade de parada...

Fim do dia, sol se pondo, missão cumprida... Jorge e Dito já estão guardando os arreios... Portanto, vivos.

Mas o café ficou na história. E a amizade continuou a mesma...


Imagem: Google


Nenhum comentário:

Postar um comentário