quinta-feira, 2 de outubro de 2014

A CHUVA


“Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite”.
Clarice Lispector

Chuva... Ah! A chuva... Quantos mistérios, mitos e misticismos a envolvem.

Duplamente temida. Tão ansiosamente aguardada, tão real quando ausente, esturricando, queimando e destruindo vidas lentamente. Igualmente real no auge de sua força, quando compromete mais vidas, porta-voz da natureza em pânico ante a ação inescrupulosa dos humanos.

Poucos compreendem sua origem, onde nasce, para onde vai. Os meteorologistas se desdobram para explicá-la. Se a simplifica, fica reduzida à ausência ou presença (se o dia vai ser aproveitável ou não). Se a explicação é mais sofisticada ninguém entende.  Na TV, mais parece um jogo eletrônico com efeitos especiais. (Dizem que os meteorologistas vivem de vento!...)

Ninguém a menospreza, pois é absolutamente necessária. É fonte de vida em todas as suas formas. É democrática, pois abençoa a todos os humanos em absoluta igualdade. Que belo exemplo! Mas são os pequenos, os vulneráveis, os enfraquecidos, os excluídos que mais sofrem tanto na sua presença quanto na sua ausência. Nas secas dos sertões, aqueles humanos enfraquecidos pouco aparecem na mídia, só mesmo quando começam a morrer de sede, depois que suas plantas e animais já se foram.

Quando a natureza se revolta e a chuva vem com força, novamente sofrerão as agruras os pobres enfraquecidos e vulneráveis da periferia. Agora mesmo, com a seca nas grandes cidades quem são os primeiros a não terem água para suas necessidades básicas? Os pobres da periferia.

A chuva vem ou falta para todos. São os humanos que fazem a sua distorção... A chuva é divina. Ela é fonte de inspiração poética... Pois ela vem também para lavar as almas, e provocar encontros e desencontros, impossíveis. “...Até as pedras rolam”...

Ela apaga os incêndios... Na noite escura aproxima os amores, aplaca os rancores, os ódios, os temores, os desamores... A chuva também pertence aos pensadores e escritores, como Henry Miller:

“Alguns pressentem a chuva, outros se contentam em molhar-se”.

Chuva e vida, vida humana e chuva... Simbolismos...  A chuva e suas características, regras da natureza, sob as leis da física. A vida e suas nuances, imprevisibilidades, o humano e suas suscetibilidades, pessimismos, otimismos, alegria e medo... Do escuro? Do desconhecido? Ou da solidão?

Ah! A chuva... Quando mansa e democrática, como faz falta!


Imagem: Google.


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