terça-feira, 18 de novembro de 2014

SAUDADE - PRESENÇA DO PASSADO


Final de um dia primaveril...  O céu azul indica que os ventos levaram as nuvens brancas para longe.  Sol caminha para o ocaso, fazendo com que o arrebol inunde o horizonte... A noite dá os seus prenúncios. Hoje é o plenilúnio...

O caminheiro poeta está na estrada...  Distante está a cidade  grande... Ele vai para o sertão rever parentes e amigos da infância que não se aventuraram a deixar o rincão querido.  Não é um local inóspito, mas sem os sinais da civilização.  Portanto, de nada adiante os aparelhos celulares, os tablets e smartphones. Eles estão dormindo em sua bagagem.

Já na estrada de chão batido,  Sente a ardência da poeira nas suas narinas e o cheiro penetrante dos  currais. Nas colinas, o gado começa a se acomodar para a noite que se se avizinha. Nas árvores o burburinho dos tico-ticos, canários e outros pássaros que disputam nos galhos o espaço para o seu repouso...

De um lado o sol já escondeu. De outro, o disco prateado  e brilhante da lua começa a despontar, fazendo que a escuridão não seja total... As luzes das casinhas, ao longe, são apenas pontos luminosos, como estrelas amareladas no chão. O caminheiro não teme sua caminhada, ainda que mal conheça a estrada que não percorria há tanto tempo.

Ele contempla a lua em sua plenitude e majestade.  Lua, luz, romantismo saudade... O caminheiro pensa no passado, imagina o que vai acontecer assim que chegar e nos dias que se seguirão: o reencontro com o passado, com as coisas e as gentes que marcaram sua vida até a sua partida para a cidade grande. Pensa na saudade... Por que saudade?

A vida lhe conduziu para caminhos bons, realizações pessoais, sentimentais e profissionais. Saudade como elo de  ligação entre o que foi bom no passado com o que é bom no presente. Saudade, como reconhecimento.  Saudade como gratidão, não como tristeza.

O caminheiro passa por uma pequena floresta, ouve os grilos, os sapos coaxando, os vagalumes pipocando aqui e ali, o silêncio tenso da travessia, enquanto a lua o espia por entre os galhos. Há um enlevo nessa caminhada... A ansiedade pela chegada... Os passos cada vez mais rápidos... O arfar da respiração... Nenhuma viv’alma... Tudo parece dormir... Que mundo é esse, tão diferente da cidade grande?

Saudade... Por que saudade, justamente agora? Sim é a saudade que o move nesse momento. Na sua mente a consciência de que esta poderá sua última visita ao rincão onde nascera... A idade já avança e os compromissos na cidade grande ainda são muitos.

A saudade nos faz caminheiros em busca do passado, para reencontrar as alegrias e os alicerces sobre os quais construímos nossas vidas, nossa felicidade, nossas vitórias, enfim, o que somos no presente.

Contemplemos a lua cheia... Façamos versos bonitos para a pessoa amada. A lua, a saudade, o romantismo, o amor... Tudo isso nos humaniza e nos fazem gentes...

...E é isso que toda a parafernália tecnológica de hoje tenta nos roubar.



Imagem: Google

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