segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

UM NATAL ESPECIAL


Naquela região longínqua, montanhosa, onde o vento constante nem deixava o calor ser tão forte e assobiava nas cumeeiras das casas,   o país esqueceu-se de existir. Pouca luz elétrica, natureza abundante, área de nascentes e de gente simples. Poucos recebem o “Bolsa Família”, menos ainda têm a “Aposentadoria Rural”.

Gente que trabalha... E muito! E que tem fé, aquela fé simples, pura, natural, quase infantil... Por aquelas bandas padre só aparece de vez em quando...

Mas as tradições religiosas, herdades de antigos colonizadores ainda permanecem vivas, como as relativas ao Natal, quando eles comemoram, de fato, o nascimento de Jesus.  Eles não se esquecem da Paixão de Cristo, do “Corpus Christi”, de Nossa Senhora de Fátima, De Nossa Senhora Aparecida, da Imaculada Conceição. E eles fazem a Novena de Natal... À moda da casa...

Sebastião da Silva, o “seu” Tiãozinho das Minas, é quem coordena tudo. Ele tem esse apelido, pois cuida das nascentes, não deixando morrer a mata ciliar que as protegem.

“Seu” Tiãozinho, meses antes percorre as montanhas, as trilhas, de casa em casa, para marcar a novena. Se o número de casas supera a expectativa ele procura ajuda de outros moradores para comandar as rezas.

As rezas são simples. Recita-se o terço, faz-se a Ladainha, lê-se a parte da Bíblia que narra o nascimento de Jesus (pouca gente sabe ler), e todos cantam “Noite Feliz”, que todos sabem de cor. “Seu” Sebastião até que tentou levar uns livrinhos que a Igreja da cidade estava oferecendo, mas achou aquilo muito moderno, com palavreado difícil e tarefas complicadas para o seu povo simples. Sempre preferiu fazer do jeito que o seu povo sabe e gosta.

Todos moram longe e nessa época as pessoas param o trabalho mais cedo para irem rezar e ainda voltar para a casa antes da noite chegar.  Porém um dia era especial. O 9º dia da novena. No alto de uma colina, que fica bem no centro da comunidade, a capelinha é o ponto de encontro final.

A capelinha, dedicada à Nossa Senhora da Conceição, cuidada com muito zelo, sob a supervisão do “seu” Tioãozinho, nesse dia se apresenta impecável, enfeitada com as flores silvestres das  matas da redondeza. Nesse último dia o povo não tem pressa. As orações começam as 17 horas. Mas o que vem depois é ansiosamente aguardado.

Cada família traz o melhor que sabe fazer: bolo de fubá, brevidade, bolinho caipira, paçoca de amendoim, broa de milho, pamonha, curau, bolo de milho... Carnes, como vaca atolada, paçoca de carne seca, costelinha de porco frita, xerém cozida... Sucos, como limonada, laranjada, de milho... Café preto e com leite... È tanta comida que “seu” Tiãozinho quase não dá conta de redistribuir-las no dia seguinte.

Não há sons estridentes de carros, nem batuques, nem forró, nem luzes piscantes... Apenas conversas animadas e reconhecimentos dos filhos recém-nascidos ou os reencontros de parentes que não se vêem há bastante tempo.

A alegria é total. E o mais importante: na espontaneidade do povo simples, sem o saber, o milagre da multiplicação acontece.

No aniversário de Jesus (e no ano inteiro) não há necessitados entre eles...



Imagem: Google

Nenhum comentário:

Postar um comentário