“Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de
chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o
escuro da noite”.
Clarice Lispector
Chuva... Ah! A
chuva... Quantos mistérios, mitos e misticismos a envolvem.
Duplamente temida. Tão
ansiosamente aguardada, tão real quando ausente, esturricando, queimando e
destruindo vidas lentamente. Igualmente real no auge de sua força, quando
compromete mais vidas, porta-voz da natureza em pânico ante a ação
inescrupulosa dos humanos.
Poucos compreendem sua
origem, onde nasce, para onde vai. Os meteorologistas se desdobram para
explicá-la. Se a simplifica, fica reduzida à ausência ou presença (se o dia vai
ser aproveitável ou não). Se a explicação é mais sofisticada ninguém entende. Na TV, mais parece um jogo eletrônico com
efeitos especiais. (Dizem que os meteorologistas vivem de vento!...)
Ninguém a menospreza,
pois é absolutamente necessária. É fonte de vida em todas as suas formas. É
democrática, pois abençoa a todos os humanos em absoluta igualdade. Que belo
exemplo! Mas são os pequenos, os vulneráveis, os enfraquecidos, os excluídos
que mais sofrem tanto na sua presença quanto na sua ausência. Nas secas dos
sertões, aqueles humanos enfraquecidos pouco aparecem na mídia, só mesmo quando
começam a morrer de sede, depois que suas plantas e animais já se foram.
Quando a natureza se
revolta e a chuva vem com força, novamente sofrerão as agruras os pobres
enfraquecidos e vulneráveis da periferia. Agora mesmo, com a seca nas grandes
cidades quem são os primeiros a não terem água para suas necessidades básicas?
Os pobres da periferia.
A chuva vem ou falta
para todos. São os humanos que fazem a sua distorção... A chuva é divina. Ela é
fonte de inspiração poética... Pois ela vem também para lavar as almas, e
provocar encontros e desencontros, impossíveis. “...Até as pedras rolam”...
Ela apaga os
incêndios... Na noite escura aproxima os amores, aplaca os rancores, os ódios,
os temores, os desamores... A chuva também pertence aos pensadores e
escritores, como Henry Miller:
“Alguns pressentem a chuva, outros se contentam em
molhar-se”.
Chuva e vida, vida
humana e chuva... Simbolismos... A chuva
e suas características, regras da natureza, sob as leis da física. A vida e
suas nuances, imprevisibilidades, o humano e suas suscetibilidades, pessimismos,
otimismos, alegria e medo... Do escuro? Do desconhecido? Ou da solidão?
Ah! A chuva... Quando
mansa e democrática, como faz falta!
Imagem: Google.
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