PRIMAVERAS
Casemiro
de Abreu
(1839-18600)
A primavera é estação dos risos.
Deus
fita o mundo com celeste afago,
Treme as
folhas e palpita o lago
Da brisa
louca aos amorosos frisos.
Na
primavera tudo é viço e gala,
Trinam
as aves a canção de amores,
E doce
e bela no tapiz das flores
Melhor
perfume a violeta exala.
Na
primavera tudo é riso e festa,
Brotam
aromas do vergel florido,
E o
ramo verde de manhã colhido
Enfeita
a fronte da aldeã modesta.
A natureza
se desperta rindo,
Um hino
imenso à criação modula
Canta a
calhandra, a juriti arrula.
O mar é
calmo porque o céu é lindo.
Alegre
e verde se balança o galho
Suspira
a fonte na linguagem meiga,
Murmura
a brisa: - Como é linda a Veiga!
Responde
a rosa: - Como é doce o orvalho!
Mas
como às vezes sobre o céu sereno
Corre
uma nuvem que a tormenta guia,
Também
a tira alguma vez sombria
Solta
gemendo de amargura um treno.
São
flores murchas: - o jasmim fenece
Mas
bafejado s’erguerá de novo
Bem
como o galho do gentil renovo
Durante
a noite quando o orvalho desce
Se um
canto amargo de ironia cheio
Treme
nos lábios de cantor mancebo
Em
breve a virgem de seu casto enlevo
Dá-lhe
um sorriso e lhe intumesce o seio
Na
primavera – na manhã da vida –
Deus às
tristezas o sorriso enlaça,
E a
tempestade se dissipa e passa
A voz
mimosa da mulher querida.
Na
mocidade, na estação fogosa,
Ama-se
a vida – a mocidade é crença
Canta,
palpita, s’atasia e goza
Imagens:
Google
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