“(...) Amo os grandes rios, pois são
profundos como a alma do homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas
nas profundezas são tranquilos e escuros como os sofrimentos dos homens. Amo
ainda mais uma coisa de nossos grandes rios: a eternidade. Sim, o rio e uma
palavra mágica para conjugar a eternidade”.
João
Guimarães Rosa
“A Terceira Margem do Rio” é o título de
um dos mais populares contos de João Guimarães Rosa. É uma obra que vai de
encontro a uma das características fundamentais desse autor que é o seu
fascínio pelos rios, conforme descrito no parágrafo inicial desta postagem.
No
conto, um homem resolve se afastar de tudo e de todos e passa a viver no rio,
navegando em sua pequena canoa rio acima, rio abaixo, sempre no rio,
indefinidamente. De nada valem os apelos da família, o empenho do filho e a
certeza da desestruturação de sua família.
O
grande mote do texto é a reflexão da condição humana e sua busca dos
significados mais profundos, simbolizados na expressão “terceira margem do
rio”.
Não
resta dúvida que a o tema é extremamente atual, dado que vivemos hoje uma
situação não de crise existencial, mas de vazio existencial. Hoje estamos
diante da banalização, da supercialidade, da falta de mística e de um sentido
maior para a vida. Segundo Guimarães Rosa, o sentido para a vida está nas
profundezas do rio, ou da alma. Mas como atingir esses espaços se a modernidade
oferece praticamente tudo que o ser humano precisa, materialmente falando?
É certo
que estamos em crise econômica. Mas ninguém está sem sua internet, seu celular,
seu PC, seus enlatados, suas roupas de marcas (ou quase de marcas). Tudo é
superficial, banal. O sentido maior da vida, que é a vida em comunidade, a
religiosidade estão lá na “primeira margem do rio”, em plano secundário.
Muitos
templos estão se esvaziando... A juventude de há muito não tem modelos de vida,
isto é, em quem se inspirar para construir o seu futuro. Não há mais perguntas impactantes, que desinstalam, que geram inquietude.
A
“Terceira Margem do Rio” é sinônimo de utopia no seu sentido inicial, um sonho
irrealizável. O rio é “eterno” e tem um destino. A alma humana é eterna
e, também, tem um destino. O grande oceano acolhe o rio, consolidando sua
eternidade. A alma humana é acolhida na eternidade divina e com a divindade se funde...
Essa é
uma realidade que ainda é superficial para as mentes humanas voltadas para o
consumismo pura e simples.
È
preciso aprender com os clássicos da literatura. A vida é superficial para quem
é superficial. Mas a busca pela "Terceira Margem do Rio" é fascinante.
Sua
bênção, João Guimarães Rosa!
Imagem:
Google
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