O filme
dirigido por Mel Gibson, “A Paixão de Cristo”, marcou época na historia do
cinema por seu realismo e polêmica. Gibson, tido como católico convicto, quis
fazer um filme menos para retratar os últimos momentos de Jesus na terra, a
partir do sua passagem pelo Jardim do Getsâmani, logo após ter ceado com os
apóstolos, e mais para fazer uma espécie de sermão sobre a realidade atual da
sociedade capitalista.
Assim,
o Jesus de Gibson, interpretado por James Caviezel, nada mais é do que a
parcela sofredora da sociedade atual. O martírio que ele sofre no corpo, tido
como exagerado por muitos, nada mais é do que a síntese dos sofrimentos dos
excluídos.
A
ironia dos soldados romanos é a ironia dos poderosos que exploram os pobres até
a última gota de seu sangue.
E são
muitos os elementos introduzidos por Gibson na sua narrativa. O demônio
tentador que não desgruda de Jesus o tempo todo, como um desafio estonteante a
ser superado a todo o momento por sua humanidade. Humanidade, aliás levada às
últimas consequências, principalmente quando um explorador exaure os explorados
numa tortura sem fim.
Cada
,quadro desse filme há uma lição, uma reflexão. A dúvida cruel de Pilatos, o
descaso dos sacerdotes, líderes do templo, a mulher que grita “Alguém faça isso
parar!” quando Jesus sucumbe ante o peso da cruz que carrega; a postura de
João, o Predileto, as atitudes de Maria, a mãe de Jesus; o corvo que vasa olhos
de um dos condenados.
Na
verdade, Gibson faz um sermão rico e profundo e foi até objeto de um estudo
filosófico, transformado em livro.
Por
hoje fica a referência a uma cena comovente,como tantas outras, em que Maria,
vê seu filho a caminho do suplicio, já todo estropiado e dilapidado na carne...
Ela nada fala, em sua mente passa um filme em flash back... Ela se lembra de
seu filho menino brincando entre as pedras, caindo, chorando e correndo ao seu
encontro em busca de colo e conforto. Ela quer fazer o mesmo... Até ensaia o
gesto de ir até ele, mas percebe que Ele, Jesus, tem uma missão a cumprir e que
seu sofrimento é o sofrimento de toda a humanidade. E Maria se recolhe e se
afasta em direção do anonimato momentâneo.
Recentemente,
a TV mostrou uma mãe indignada por ver sua filha presa por fazer, junto com o
namorado, um arrastão em ônibus da cidade grande. Ela, inconsolável, batia na
filha sob o olhar plácido da polícia. Que dor essa mãe sentia!... Que dor, ao
ver sua filha conduzida à privação da liberdade, enterrando sonhos sonhados com
carinho desde quando essa moça ainda habitava o seu ventre!
Dores e
ansiedade de mães que percebem seus filhos escaparem irreversivelmente por seus
dedos e se tornarem criminosos. Mães que choram sós, na solidão, no anonimato,
nas orações. Como Maria, acompanhando à distância o martírio de seu filho
inocente para depois recolher o seu corpo inerte, tal como retratou Michelangelo, magistralmente, em “La Pietá”.
Dores e
ansiedade de mãe em ver seus filhos se perderem nas penumbras do vício, do
descontrole, da morte e da saudade.
... E o
sermão de Gibson continua fazendo eco!
Imagem:
Google
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