terça-feira, 29 de outubro de 2013

DEPENDÊNCIAS


Estou no olho do furacão! Não, não é uma tempestade de granizo e ventos fortes... E o centro da cidade grande... É gente que corre, fala, grita... Crianças que choram... Jovens e adolescentes que riem, brincam... Ônibus, carros, buzinaço.... Fumaça, ambulantes... Sirenes... Meu Deus que mundo é esse!?

Estou só... Solitária na multidão... Penso no quanto somos dependentes uns dos outros nessa “pretensa” sociedade moderna.

Lembro-me de uma cerimônia de casamento católico em que o diácono num dado momento dirige-se à noiva e diz: “Não se preocupe com sua felicidade, ela está nas mãos de seu noivo...” E, voltando-se ao noivo repete: “Você, meu amigo, não se preocupe com sua felicidade, ela está nas mãos de sua noiva...” E concluiu: “Acreditem nisso!”

E vejo, nesse torvelinho de gente e coisas, pessoas caminham de mãos dadas. Vejo mães que abraçam fortes seus filhos junto ao corpo. Vejo vendedores e vendedoras com olhos angustiados tentando atrair os compradores para seus produtos. Certamente precisam atingir suas metas.

Os sons dos ambulantes se misturam aos ruídos dos carros à poluição do ar. Estou em meio a balbúrdia e à singeleza dos gestos de amor.  Meu ônibus não chega, Preciso da paz da minha casa. Quanta dependência!

Manuseio desatenciosamente uma revista e de repente depara-me com uma frase de Goethe: “O mais belo estado de vida é a dependência livre e voluntária e como ela seria possível sem o amor?”

Nossa! Tudo a ver com as cenas daquele casamento.  A dependência só tem sentido com essa dose de responsabilidade das pessoas envolvidas. E não apenas das pessoas e sim dos atores envolvidos, pois somos dependentes do Estado, dos transportes, do sistema de saúde, da educação, mas, sobretudo da interdependência das pessoas que amamos.

Entregar-se à dependência não é entrar por baixo numa relação... É acreditar no amor e na pessoa amada e, sobretudo manter o direito à liberdade, pois um relacionamento a dois, de igual para igual, a dependência é mútua, e a independência também é igual.

Ufa! Estou à caminho de casa. Ajeitei as sacolas... Ouço música, tento me livrar da balbúrdia...  Agora quero depender mesmo da minha liberdade para ficar só e usufruir da minha paz.





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