quinta-feira, 8 de maio de 2014

AS BREJEIRICES DO BREJEIRO


(Narrativas sobre um cãozinho esperto)

Os dicionários trazem muitos sinônimos de brejeiro. Há indicações do sentido pejorativo da malandragem, que não inspira confiança. Há aqueles que se referem à alegria, a malemolência, à empatia... Indica, também, algo que tem a ver com o brejo, pântano, lodo, lama.

Aquele cãozinho apareceu no sítio. Sua linhagem indecifrável parece ser uma salada mista de DNA’s... Chegou pela estrada, sem nome, todo sujo, mas simpático, agradando a todos, principalmente as meninas... Gostaram dele e ele prontamente as adotou, como adotou a casa. Proibido de adentrá-la, tratou de se arranjar por ali mesmo. Logo ganhou um pouco de comida... Não precisou se preocupar com a água que é abundante no local, tanto para beber como para a higiene... Higiene? Sim, higiene... Mas esse é o grande problema do agora rebatizado de “Brejeiro” (Mais pela sujeira que pela simpatia...).

Sucesso imediato, “Brejeiro”, ganhou a simpatia de todos, inclusive dos visitantes e passou a ser companhia constante dos demais animais da casa. Quando os cães precisam agir lá está ele à frente do pelotão! Mas quando vê o tamanho da encrenca logo fica para trás, só observando o desenrolar dos acontecimentos. Malandragem pura.

Com o passar do tempo “Brejeiro” foi demonstrando suas qualidades brejeiras. Um exemplo bem característico de sua personalidade: Como no sítio existem lagos com peixes, ele pesca e enterra. No final da tarde ele vai ao local onde está o peixe, desenterra-o e passa a se esfregar naquela coisa estragada. Esfrega-se de um lado, se esfrega do outro. Volta a enterrar o peixe “fedido” e sai todo brejeiro e convencido.

Já é noite e “Brejeiro” vai para o brejo caçar! Sim é verdade. Chegou-se a conclusão de que ele se suja para confundir sua presa. Ele caça preás, lebres, e outros animais que vivem por ali. Brejeiro não passa fome!

Como vive sempre sujo, de vez em quando as meninas resolvem dar-lhe um bom banho. Fazem de tudo: Xampu, sabonete anti-sarna, talcos, perfumes, fitinhas nas orelhas. “Brejeiro” tudo permite, passivamente. Quando o serviço termina, ele permanece por ali, à vista das cuidadosas meninas, mas ma primeira oportunidade lá vai ele para o brejo e volta todo enlameado novamente. Mas ele tem sua preocupação com a higiene, pois de quando em vez lá está ele no lago dando seus mergulhos (e se lavando).

Numa confraternização de Natal ele conseguiu atrair para si todas as atenções. No meio da festa, todos muito bem arrumados para a “Missa do Galo”, eis que “Brejeiro” aparece na porta da sala, chorando e com uma pata levantada. Pedia socorro. Logo as meninas entraram em pânico.

“Brejeiro” foi picado por uma cobra! Vai morrer! Isso não pode acontecer! Vamos socorrê-lo! E lá se vai a caravana para salvar o mal acabado do “Brejeiro”. A missa e a festam ficaram para depois. “Brejeiro” foi salvo.

Hoje vive lá, praticamente o caseiro. Das quatro meninas, três estão casadas e moram longe. A solteira estuda em outra cidade. A mãe, ainda que morando lá, está um tempo na casa de cada filha. O pai, infelizmente faleceu. E “Brejeiro” continua lá com suas façanhas. A turma se reencontra periodicamente. Fazem a festa e ele fica igualmente feliz.

... E todos sentem saudades uns dos outros.


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