terça-feira, 13 de maio de 2014

QUEM VÊ CARA VÊ CORAÇÃO?


Há no coração humano um espaço que ninguém tem acesso, menos a própria pessoa e Deus. Aliás, esta é, segundo alguns filósofos, uma das provas que Deus existe.

Portanto, é arriscado o exercício de adivinhação, do tipo “eu sei o que você está sentindo”. Não, não sabe... E é uma grande furada dar conselhos sem conhecer mais profundamente a pessoa, sua história de vida, seus dramas, suas derrotas, suas vitórias, suas decepções e suas alegrias.

Há muita prepotência e arrogância espalhadas por aí. Donos absolutos da verdade. Ao impor suas idéias cometem injustiças e ferem ainda mais o coração sofrido das pessoas.

Quem vê cara não vê coração
(Dito popular, autor desconhecido).

Uma pessoa pode estar numa roda de amigos, conversando animadamente, mas seus olhos de vez em quando se perdem no horizonte, deixando transparecer dor, angústia, ansiedade, sofrimento. Uma vez em casa, é plena de incertezas e seus olhos nadam em lágrimas. É síndrome do palhaço, que faz a plateía rir, mas seu coração está partido.

Todas as pessoas são dignas de um cuidado humanizado e humanizante. É a ética do cuidado. Segundo Leonardo Boff:
“O cuidado está ligado essencialmente à vida, pois esta sem o cuidado, não persiste. Daí haver uma tradição filosófica que nos vem da antiguidade (a fábula-mito 220 de Higino) que define o ser humano como essencialmente um ser de cuidado. A ética do cuidado protege, potencia, preserva, cura e previne. Por sua natureza não é agressiva e quando intervém na realidade o faz tomando em consideração as conseqüências benéficas ou maléficas da intervenção. Vale dizer, se responsabiliza por todas as ações humanas. Cuidado e responsabilidade andam sempre juntos”.

Só podemos pensar em cuidar da natureza, se aprendemos a cuidar das pessoas, especialmente de quem está próximo de nós. Cuidar é olhar as pessoas com outros olhos. É sair de si, abandonar o egoísmo. É partilhar diálogos, tempo, consideração. É saber ouvir.

Em alguns lugares a miséria está sendo eliminada. Porém, a modernidade gera outras formas de miséria, de pobreza, tendo como fio condutor a falta de cuidado, o abandono. Daí sobrevém as mazelas (drogas, vícios, dependências, depressão, doenças psicológicas).

Portanto, antes de julgar é preciso saber se estamos imbuídos da ética do cuidado. Por trás de uma fisionomia calma ou da maquiagem de um palhaço, pode estar uma alma entristecida, precisando de atenção, de cuidado.

Assim, estamos nos aproximando da compreensão de parte do mistério do ser e da alma humana.


Imagem: Google

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