quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

ROSINHA* (UMA LENDA QUASE URBANA)

Ela sempre se destacou no bairro onde nasceu, cresceu, estudou e concluiu o Ensino Médio. O comentário, para orgulho dos pais e irmãos e namorados (teve vários), era de que “...essa menina vai longe, por sua beleza, simpatia e talento”.

Rosinha tinha carisma. Era alegre, simpática e estudiosa, apesar de sua origem humilde e de não tem grandes ambições na vida. Na verdade queria trabalhar no Shopping, pois “...Achava lindo suas amigas indo e voltando do trabalho, sempre bem vestidas e com sacolas, muitas sacolas nas mãos, sacolas das roupas de marca...”.

Quando Rosinha, que era também conhecida por Ro, concluiu o Ensino Médio, tratou de se aperfeiçoar profissionalmente, fazendo os cursos que eram possíveis, por serem pertos de casa e não muito caros. Assim, procurou Igrejas, Sindicatos, ONGs, Sociedade Amigos de Bairro, entidades sem fins lucrativos que lhe proporcionaram cursos de Telemarketing, Administração, Relações Humanas, Vendas, Administração de Pessoal, Digitação, Conhecimentos Básicos de Informática, Iniciação em Logística, além de Técnicas de Redação, de Escrita alguns outros.

Todos esses cursos lhe forneceram Curriculum Vitae os quais Ro saía, às vezes só, as vezes com amigos e amigas, para percorrer lojas nos calçadões e Shoppings da cidade e entregá-los na esperança de ser chamada para seu primeiro emprego “fichado”, ainda que por tempo determinado. Pesava-lhe a condição de não ter tido experiência.

E foi com a colaboração de uma amiga que já trabalhada numa loja do Shopping que ela conseguiu uma entrevista, um teste e a contratação por um período de experiência. Era tudo o que Rosinha queria: trabalhar no Shopping. Todo o seu esforço nos cursos profissionalizantes valeu a pena. Agora, quando fichada definitivamente, poderia planejar a Faculdade (Gostou muito da área de Logística e Comercio Exterior).

Sua mãe lhe preparou a melhor roupa, o melhor penteado, a maquiagem sóbria, os sapatos limpos engraxados e saltos não extravagantes e lá foi Rosinha para o seu primeiro dia de trabalho. Tremia e suava muito, nervos á flor da pele. Mas até eu foi bem. Nada vendeu, pois foi escalada para acompanhar uma vendedora experiente e arrumar as roupas não escolhidas pelos clientes. Não desanimou.

A rotina se repetiu nos demais dias. Chegou a angustiar-se... Mas manteve a calma, a paciência, até que conseguiu a primeira e boa venda. E outras mais. Entrou no eixo a prendeu a vender, começou a acumular comissões de vendas. Teve sua Carteira Profissional assinada e, então, conquistou aquele poder maravilhoso de “comprar”. Agora. Ro já está inserida no contexto do capitalismo consumista.

Ro visitou lojas, fez novos amigos... E comprou bastante, especialmente aquelas roupas que tanto tinha admirado nas suas amigas. Continuou vendendo bem e comprando melhor ainda...

Ao vencer o primeiro mês de trabalho, recebeu o primeiro pagamento. Primeiras emoções das quais nunca se esquece.

O primeiro salário e as primeiras contas a pagar. Rosinha, emocionada, revisitou as lojas e com o seu rico dinheirinho pagou todas as contas, todas as compras feitas.  Até comeu aquele camarão à milanesa que namorou o mês inteiro. Foi para casa mais tarde, causando preocupações para sua mãe que a esperava ansiosa.

Ao chegar o sorriso, o abraço, as histórias, o desabafo... “Mãe, estou muito feliz! Recebi meu primeiro salário e paguei todas as minhas contas.... Pena que não sobrou muito...
- Mas, filha, você tinha prometido me ajudar... Estamos com água e luz atrasadas e o gás está acabando...
- Mãe, estou muito feliz... Paguei tudo!

Pois é, os capitalistas não se preocupam muito em pagar salários, pois o dinheiro que sai, volta de alguma maneira. Rosinha é mais um exemplo. Deixou todo o seu dinheiro no mesmo lugar onde o ganhou.

É para pensar...



*Nome fictício. Texto de ficção. Qualquer semelhança com a realidade será mera coincidência.


Imagem: Google

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