segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

"A TERCEIRA MARGEM DO RIO"


“(...) Amo os grandes rios, pois são profundos como a alma do homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranquilos e escuros como os sofrimentos dos homens. Amo ainda mais uma coisa de nossos grandes rios: a eternidade. Sim, o rio e uma palavra mágica para conjugar a eternidade”.
João Guimarães Rosa

A Terceira Margem do Rio” é o título de um dos mais populares contos de João Guimarães Rosa. É uma obra que vai de encontro a uma das características fundamentais desse autor que é o seu fascínio pelos rios, conforme descrito no parágrafo inicial desta postagem.

No conto, um homem resolve se afastar de tudo e de todos e passa a viver no rio, navegando em sua pequena canoa rio acima, rio abaixo, sempre no rio, indefinidamente. De nada valem os apelos da família, o empenho do filho e a certeza da desestruturação de sua família.

O grande mote do texto é a reflexão da condição humana e sua busca dos significados mais profundos, simbolizados na expressão “terceira margem do rio”.

Não resta dúvida que a o tema é extremamente atual, dado que vivemos hoje uma situação não de crise existencial, mas de vazio existencial. Hoje estamos diante da banalização, da supercialidade, da falta de mística e de um sentido maior para a vida. Segundo Guimarães Rosa, o sentido para a vida está nas profundezas do rio, ou da alma. Mas como atingir esses espaços se a modernidade oferece praticamente tudo que o ser humano precisa, materialmente falando?

É certo que estamos em crise econômica. Mas ninguém está sem sua internet, seu celular, seu PC, seus enlatados, suas roupas de marcas (ou quase de marcas). Tudo é superficial, banal. O sentido maior da vida, que é a vida em comunidade, a religiosidade estão lá na “primeira margem do rio”, em plano secundário.

Muitos templos estão se esvaziando... A juventude de há muito não tem modelos de vida, isto é, em quem se inspirar para construir o seu futuro. Não há mais perguntas impactantes, que desinstalam, que geram inquietude.

A “Terceira Margem do Rio” é sinônimo de utopia no seu sentido inicial, um sonho irrealizável. O rio é “eterno” e tem um destino. A alma humana é eterna e, também, tem um destino. O grande oceano acolhe o rio, consolidando sua eternidade. A alma humana é acolhida na eternidade divina e com a divindade se funde...

Essa é uma realidade que ainda é superficial para as mentes humanas voltadas para o consumismo pura e simples.

È preciso aprender com os clássicos da literatura. A vida é superficial para quem é superficial. Mas a busca pela "Terceira Margem do Rio" é fascinante.

Sua bênção, João Guimarães Rosa!


Imagem: Google

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