quarta-feira, 21 de setembro de 2016

INDOLÊNCIA NÃO É "ATARAXIA"


Dois aspectos envolvem a definição de indolência: 1) a capacidade de não sentir dor ou de superar a dor  e 2) a relacionada com a má vontade, com a preguiça, com a negligência.

O primeiro aspecto é uma força positiva. A presença da dor, física ou emocional, significa a presença de um mal que precisa ser tratado. A dor é um sinal, um sintoma. Uma vez conhecida a causa (ou as causas), uma vez cuidando dela e tendo a consciência que sua presença será passageira, saber lidar com ela, isto é uma virtude. A quem diga que “a dor pode ser inevitável, mas o sofrimento é opcional”. Pode-se conviver com a dor e pode-se suportá-la naturalmente na certeza que vai passar. A mesma consideração com a dor emocional. Por exemplo, a dor da perda de ente querido. É muito forte. No entanto, pode se trabalhar no sentido de ao suprimi-la, transformando-a em saudade. Pode-se sentir muita saudade e pouca o quase nada de dor pela perda. É até um respeito pela memória daquele que deixou este mundo.

O segundo aspecto é mais sério. A indolência passa a ser uma condição de subvida da pessoa. Pouco ou nada faz, é preguiçoso, desanimado, negativista, apático, não dá opinião... Vive na eterna zona de conforto. É negligente, não tem responsabilidade por nada.

O indolente foi ironizado por Monteiro Lobato com o personagem “Jeca Tatu”, indolente, vítima da verminose, uma  das características do homem brasileiro do interior. Esta doença suga-lhe todas as energias, tornando-o apático e sem vontade.

O indolente, salvo as situações de doenças, é um pernicioso na sociedade, principalmente nas famílias que tem de sustentá-lo.

Portanto, indolência não rima com “ataraxia”, que é a condição descrita pelos filósofos gregos do ultimo período, o Ceticismo, o Estoicismo e o Epicurismo, uma condição de superação das preocupações da vida, como o sofrimento, dor e perturbações, através de muito exercício, força de vontade e concentração. Algumas características da ataraxia: tranquilidade de mente, paz na alma, espírito calmo, felicidade como virtude.

A “ataraxia” não significa indolência... Esta é alienação. A “ataraxia” não é alienante, pois permite a pessoa continuar vivendo só que num patamar diferente. A uma imperturbabilidade em seu ser que lhe permite resolver os problemas, superá-los, sem sofrimento. Viver não é um mar de rosas. A vida tem suas nuances. O indolente está sempre de mal com a vida. Quem atingiu a “ataraxia” está sempre de bem com a vida. A diferença está aí.

Associada à palavra indolência vem sempre a expressão “insolência”. Nada a ver uma com a outra. Apenas rima poética. Insolência é estupidez, falta de educação, arrogância, maldade, negligencia ao extremo. É,  portanto, uma pessoa desqualificada e desnecessária à sociedade. Nada a ver mesmo!



Imagem: Google

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