sexta-feira, 23 de setembro de 2016

"PRIMAVERAS", POEMA DE CASIMIRO DE ABREU (1º DE JULHO, 1858)


PRIMAVERAS
Casemiro de Abreu


(1839-18600)

A primavera é estação dos risos.
Deus fita o mundo com celeste afago,
Treme as folhas e palpita o lago
Da brisa louca aos amorosos frisos.

Na primavera tudo é viço e gala,
Trinam as aves a canção de amores,
E doce e bela no tapiz das flores
Melhor perfume a violeta exala.

Na primavera tudo é riso e festa,
Brotam aromas do vergel florido,
E o ramo verde de manhã colhido
Enfeita a fronte da aldeã modesta.

A natureza se desperta rindo,
Um hino imenso à criação modula
Canta a calhandra, a juriti arrula.
O mar é calmo porque o céu é lindo.

Alegre e verde se balança o galho
Suspira a fonte na linguagem meiga,
Murmura a brisa: - Como é linda a Veiga!
Responde a rosa: - Como é doce o orvalho!

Mas como às vezes sobre o céu sereno
Corre uma nuvem que a tormenta guia,
Também a tira alguma vez sombria
Solta gemendo de amargura um treno.

São flores murchas: - o jasmim fenece
Mas bafejado s’erguerá de novo
Bem como o galho do gentil renovo
Durante a noite quando o orvalho desce

Se um canto amargo de ironia cheio
Treme nos  lábios de cantor mancebo
Em breve a virgem de seu casto enlevo
Dá-lhe um sorriso e lhe intumesce o seio

Na primavera – na manhã da vida –
Deus às tristezas o sorriso enlaça,
E a tempestade se dissipa e passa
A voz mimosa da mulher querida.

Na mocidade, na estação fogosa,
Ama-se a vida – a mocidade é crença
Canta, palpita, s’atasia e goza


Imagens: Google

Nenhum comentário:

Postar um comentário