A natureza nos constituiu com dois ouvidos e
uma única boca.
São inúmeros os benefícios que usufruímos
disso. Os ouvidos nos fazem interagir com o ambiente, permitem-nos perceber os
sons maravilhosos, como as músicas e a natureza. Outras vezes nem tanto, como
os ruídos das cidades e as músicas que nem sempre nos fazem bem. Com os ouvidos
é possível percebermos os perigos que nos rondam e nesse quesito, eles podem
até antecipar os que os olhos irão ver no instante seguinte.
Outra consideração importante que podemos
fazer a partir do fato de termos dois ouvidos e uma boca é que, sabiamente, a
natureza nos recomenda a ouvir mais e a falar menos. Ouvir muito e falar pouco.
Fomos agraciados com esses dotes físicos,
porque há momentos em que corremos o risco de falar demais e arrumar para nossa
cabeça tremendas confusões. Falamos de tudo, reparamos em tudo e a língua
funciona à toda velocidade, competindo até com os locutores esportivos mais
entusiasmados... E tome barulho, falatórios, fofocas e coisas do gênero!
Cometemos, assim, infelizmente, muitas
pequenas injustiças.
E mais, tudo o que falamos refletem as nossas
premissas, que são valores, idéias, conceitos e preconceitos enraizados em
nossa mente desde a vida intra-uterina. Muito do que falamos “escapam” e saem
de nossa boca “sem querer”. Quando nos damos conta, já falamos!
Os preconceitos, então, são terríveis.
Emitimos comentários preconceituosos (“sem querer”) muitas vezes, pois nossos
olhos e ouvidos, atentos, buscam tudo. E quando aliados, olhos e ouvidos
apurados, a boca faz uma festa! Comentamos sobre o peso, a cor, a magreza, o
cabelo, as nádegas, os seios, os gestos, os trejeitos, a altura, o vestir, o
falar, a origem... Muitos comentários surgem como “brincadeiras” e não
percebemos que eles vão ao que é sagrado
no ser humano: os seus sentimentos. Ferimos os sentimentos das pessoas. Quanta
injustiça!
E quanto percebemos que assim agimos, pedir
desculpas (que é o melhor caminho), só complica a situação. “A emenda sai pior
que o soneto”. O jeito é mesmo tomar cuidado e seguir o ensinamento da
natureza. Precisamos ouvir mais e falar menos.
Essa postura é um belo exercício de
autodomínio, de tomada de consciência, de aprendizado. Precisamos aprender a
ouvir mais. Quem ouve com paciência tem mais tempo para reelaborar o seu
raciocínio, ser mais prudente, compreender melhor a pessoa com quem está
falando. Ela tem toda uma história de vida a ser considerada. Vale a máxima
“não fazer para o outro aquilo que não desejo que o outro faça para mim”.
Esse é caminho para que não cometamos as
injustiças que tanto machucam as pessoas.
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