Este
texto foi escrito por José Gonçalves dos Santos, em homenagem a Mauro (*). Falecido em 1991, vítima de
acidente de trânsito. Muito forte, brigão,
sua morte impactou seus amigos e princ9paçmente os colegas de trabalho.
“Ei Mauro, que história é essa de passar para
o andar de cima, assim, sem mais nem menos. O que ouve dessa vez? Espera aí...
Assustar tanta gente, por quê? Não acredito... Houve uma recaída com o grande
Mauro, com “M” de mau?
Não, não,
não pode ser! Um acidente, Mauro! Você vivia perigosamente. Seu “M” de macho lhe dava muitos álibis, não
é mesmo? Acontece que acidente é acidente. Não há muito que fazer. Foi um
acidente. Você queria isso, seu halterofilista de uma figa!
Pois é, chegou o descanso para o guerreiro, o
inconformista, o irreverente, o alérgico à fumaça. Daquele que não levava
desaforo p’ra casa, daquele que não tolerava injustiças, do masoquista, às
vezes.
Agora, em paz, pode tirar essa máscara sisuda
que sempre insistiu em usar. Mostre sua verdadeira face, seu verdadeiro coração,
sua capacidade de ser criança, o que você, aliás, ensaiou no dia do acidente.
Lembra-se das brincadeiras e das gozações com
os colegas, demonstrando, antes de tudo, uma felicidade jamais visa em seu rosto?
Lembra-se dos planos para uma vida mais pacata junto da moça que lhe deu um
filho?
Vamos cara, mostre a sua face humana, pois as
coisas boas da vida logo vão exorcizar a sisudez de uma revolta íntima que tem
embrutecido a sua alma.
Decepção, hein, halterofilista de uma figa!
Estávamos ávidos para ver muito mais vezes o Mauro que sabia amar, chorar,
brincar... Que sabia cativar as pessoas com respeito e admiração.
Talvez não queira lágrimas. Descanse em paz
Mauro. ‘A vida continua...’ diz o velho ditado, ainda empobrecida sem você.
Junte-se a outros atletas da eternidade e
curta as olimpíadas dos escolhidos.
Quanto a nós, buscaremos consolo nos jogos da
saudade”.
(*)
Nome alterado pelo autor.
Ilustração:
Laurindo Cid
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