Ela
sempre se destacou no bairro onde nasceu, cresceu, estudou e concluiu o Ensino
Médio. O comentário, para orgulho dos pais e irmãos e namorados (teve vários),
era de que “...essa menina vai longe, por
sua beleza, simpatia e talento”.
Rosinha
tinha carisma. Era alegre, simpática e estudiosa, apesar de sua origem humilde
e de não tem grandes ambições na vida. Na verdade queria trabalhar no Shopping,
pois “...Achava lindo suas amigas indo e
voltando do trabalho, sempre bem vestidas e com sacolas, muitas sacolas nas
mãos, sacolas das roupas de marca...”.
Quando
Rosinha, que era também conhecida por Ro, concluiu o Ensino Médio, tratou de se
aperfeiçoar profissionalmente, fazendo os cursos que eram possíveis, por serem
pertos de casa e não muito caros. Assim, procurou Igrejas, Sindicatos, ONGs,
Sociedade Amigos de Bairro, entidades sem fins lucrativos que lhe
proporcionaram cursos de Telemarketing, Administração, Relações Humanas,
Vendas, Administração de Pessoal, Digitação, Conhecimentos Básicos de
Informática, Iniciação em Logística, além de Técnicas de Redação, de Escrita
alguns outros.
Todos
esses cursos lhe forneceram Curriculum Vitae os quais Ro saía, às vezes só, as
vezes com amigos e amigas, para percorrer lojas nos calçadões e Shoppings da
cidade e entregá-los na esperança de ser chamada para seu primeiro emprego
“fichado”, ainda que por tempo determinado. Pesava-lhe a condição de não ter
tido experiência.
E foi
com a colaboração de uma amiga que já trabalhada numa loja do Shopping que ela
conseguiu uma entrevista, um teste e a contratação por um período de
experiência. Era tudo o que Rosinha queria: trabalhar no Shopping. Todo o seu
esforço nos cursos profissionalizantes valeu a pena. Agora, quando fichada
definitivamente, poderia planejar a Faculdade (Gostou muito da área de
Logística e Comercio Exterior).
Sua mãe
lhe preparou a melhor roupa, o melhor penteado, a maquiagem sóbria, os sapatos
limpos engraxados e saltos não extravagantes e lá foi Rosinha para o seu primeiro
dia de trabalho. Tremia e suava muito, nervos á flor da pele. Mas até eu foi
bem. Nada vendeu, pois foi escalada para acompanhar uma vendedora experiente e
arrumar as roupas não escolhidas pelos clientes. Não desanimou.
A
rotina se repetiu nos demais dias. Chegou a angustiar-se... Mas manteve a
calma, a paciência, até que conseguiu a primeira e boa venda. E outras mais.
Entrou no eixo a prendeu a vender, começou a acumular comissões de vendas. Teve
sua Carteira Profissional assinada e, então, conquistou aquele poder
maravilhoso de “comprar”. Agora. Ro já está inserida no contexto do capitalismo
consumista.
Ro
visitou lojas, fez novos amigos... E comprou bastante, especialmente aquelas
roupas que tanto tinha admirado nas suas amigas. Continuou vendendo bem e
comprando melhor ainda...
Ao
vencer o primeiro mês de trabalho, recebeu o primeiro pagamento. Primeiras
emoções das quais nunca se esquece.
O
primeiro salário e as primeiras contas a pagar. Rosinha, emocionada, revisitou
as lojas e com o seu rico dinheirinho pagou todas as contas, todas as compras
feitas. Até comeu aquele camarão à
milanesa que namorou o mês inteiro. Foi para casa mais tarde, causando
preocupações para sua mãe que a esperava ansiosa.
Ao
chegar o sorriso, o abraço, as histórias, o desabafo... “Mãe, estou muito feliz! Recebi meu primeiro salário e paguei todas as
minhas contas.... Pena que não sobrou muito...”
- Mas, filha, você tinha prometido me
ajudar... Estamos com água e luz atrasadas e o gás está acabando...
- Mãe, estou muito feliz... Paguei tudo!
Pois é,
os capitalistas não se preocupam muito em pagar salários, pois o dinheiro que
sai, volta de alguma maneira. Rosinha é mais um exemplo. Deixou todo o seu
dinheiro no mesmo lugar onde o ganhou.
É para
pensar...
*Nome fictício. Texto de ficção. Qualquer
semelhança com a realidade será mera coincidência.
Imagem:
Google
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