sexta-feira, 4 de julho de 2014

SEMEANDO FLORES


D. Ana (nome fictício) no alto dos seus 70 anos, viúva há 10, por opção, vive só. Tem cinco filhos e 11 netos (dados fictícios)

Viveu casada por 40 anos... Seu marido, Jorge (nome também fictício) morreu há 10 anos de problemas cardíacos. De seus filhos todos casados ( Três mulheres e dois homens), 3 moram próximos e 2 bem longe, no exterior. Eles, em consenso montaram para ela um apartamento pequeno, onde uma pessoa duas  vezes por semana cuidava da limpeza e nos demais passava por lá para preparar-lhe uma sopa para a noite.

D. Ana recebia a pensão deixada por Jorge, pouca, mas o suficiente para a sua rotina... Rotina? Nem tanto.

Tomava seus remédios religiosamente para cuidar da ameaça do diabetes e do colesterol elevado (próprios da idade). Era franzina, mas muito alegre e comunicativa. Considerada e amada por todos. Depois da morte de Jorge cumpriu o ritual do luto, mas nunca se esqueceu dele. As alianças estão juntas na sua mão esquerda.

Diariamente, D. Ana faz assim:

Levanta-se bem cedinho. Toma seu banho e já liga para um dos filhos para dar notícias.  Quem recebeu o “bom dia de Ana” repassa para os demais o “como mamãe está”. Imediatamente, Ana, que já avisou, sai de casa e ganha a rua (a diarista tem as chaves da de seu apartamento).

Ela tona café num restaurante público da cidade, onde o preço é muito baixo. O cardápio é café com leite, pão com manteiga e uma fruta. Nada mal.

Em seguida corre para a Casa da Terceira Idade. Lá tem piscina, ginástica, e muitas outras atividades próprias para pessoas de sua idade, inclusive palestras, cursos e passeios.

Já pelas onze ou onze e meia, D. Ana volta para o almoço no mesmo restaurante. Às vezes retorna à Casa da Terceira idade, ou, então,  vai para casa “descansar”. Gosta de ver TV, especialmente os programas policiais. Vê o jornal da noite e, como não gosta de novela, vai dormir. Para isso toma aquele sonífero leve que o seu cardiologista (que acha bonitão) receitou.

Não perde as consultas médicas periódicas e faz os exames. Não se descuida dos remédios que pega no posto de saúde.

D. Ana não lê, pois sua vista não ajuda; mas adora folhear revistas, para, principalmente admirar as fotos. Saudades do Jorge? Um pouco. Segue o conselho do Pe. Marcelo Rossi: “Saudade sim, tristeza não!”. Seus filhos e netos estão por perto (ou se comunicando frequentemente) e seus amigos são muitos.

Extremamente ativa, participa de muitas atividades das muitas atividades na Casa da Terceira Idade e não perde os passeios e excursões culturais. Não sabe dançar e não quer aprender. Questão de opinião!

Eita vidinha boa e tranqüila...

D. Ana tem um hobby: gosta de flores. Sempre que passa pelo Mercado Municipal compra aqueles pacotinhos de sementes,,, E que ela faz? Por onde passa, sempre à janela do ônibus (tem passe livre), vai jogando as sementes.

Um dia foi questionado por um jovem que coincidentemente era seu companheiro de viagem todos os dias de manhã.
- A senhora joga as sementes pela janela do ônibus. Só cimento e asfalto... Não tem como elas germinarem. São tempo e dinheiro perdidos...

Ela respondeu:
- Meu filho, jogo porque assim eu quero. Alguém precisa espalhar flores pela cidade.
- Está bom, retrucou o rapaz, mas acho difícil a senhora ver essas flores crescerem...

O tempo passou. D. Ana por força do tempo, adoeceu de vez e deixou de freqüentar aqueles lugares de sempre. Fazia falta no café da manhã, na Casa da Terceira Idade, no almoço e nos passeios. Até aquele moço mudou de linha do ônibus. E o milagre aconteceu...

Sem nenhuma explicação, naquelas ruas por onde D, Ana passava a primavera passou a ser cada ano mais linda!

Semeie flores... Pense no amanhã!



Imagem: Google

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