quarta-feira, 20 de maio de 2015

A FÁBULA DOS TRÊS CAÇADORES (OU A RELATIVIDADE DO CONHECIMENTO)


Conta-se que três pessoas, um psicólogo, um engenheiro e um teólogo, foram fazer uma caçada numa floresta canadense... Ao aproximarem-se da floresta depararam com uma casa, possivelmente de um caçador ermitão. Como não havia ninguém no seu interior naquele momento, passaram a explorá-la. Havia escasso mobiliário, mas o que chamou a atenção deles foi o fogão que estava pendurado por arames, amarrado nas vigas da casa... Passaram a conjecturar a respeito do motivo que levou o solitário caçador a posicionar o fogão daquela maneira pouco usual.

- Fascinante! Exclamou o psicólogo. Certamente ele fez isso para aconchegar-se sob ele como se estivesse voltando para o seio de sua mãe. É a sua memória afetiva dos tempos da gestação...

- Bobagem! Retrucou o engenheiro. É uma questão prática. Ele fez isso para que o calor do fogo se espalhe uniformemente pelos demais cômodos da casa...

- Com todo o respeito, retorquiu o teólogo. Essa gente da floresgta ainda guarda os resquícios de suas práticas religiosas primitivas. O fogão esgá assim como se o caçador fizesse um culto ao fogo, fonte de tantas coisas boas para sua vida...

E continuaram essa discussão até que o caçador chegou. Imediatamente, quase num côro uníssono, fizeram a esperada pergunta:

- Qual o motivo do fogão estar assim pendurado nas vigas da casa? O caçador de pronto respondeu:

- É que naquele momento eu tinha mais arame que chaminé...

As aparências enganam... Temos imaginação fértil, fundamentada naquilo que estudamos, naquilo que faz parte do nosso interesse maior. Isso justifica as digressões de cada um dos personagens envolvidos na historieta narrada acima.

O psicólogo, interessado em desvendar a alma, com seus sentimentos, seus vínculos afetivos, sendo que a saudade do ventre materno é uma presença constante na vida das pessoas, ainda que incrustada no subconsciente.

O engenheiro com sua praticidade, tentando compreender os propósitos da criatividade das pessoas e seus reflexos no seu cotidiano.

O teólogo desejando desvendar os mistérios do misticismo humano... /as pessoas se relacionam com o sobrenatural a partir das incompreensões das leis físicas que fregem a natureza, divinizando os elementos que são fontes de malefício ou de benefícios em sua vida.
  
Pois é, de que adiantam os estudos mais profundos, se eles não nos fazem ver as coisas de forma mais prática, mais empírica? O quê nos impede de ver as coisas para além da simples aparência?

O conhecimento deve nos ajudar a evitar pré-julgamentos, juízos preconceituosos, idéias precipitadas...

Enfim, deve acentuar em nós a humildade para não querermos o senhorio do saber, da cultura, da verdade. Esta não existe, pois é relativa e sofre as contingências da cultura, do meio, da realidade e do próprio processo de construção da nossa maturidade mental.



Imagem: Google

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