(Narrativas sobre um
cãozinho esperto)
Os dicionários trazem
muitos sinônimos de brejeiro. Há indicações do sentido pejorativo da
malandragem, que não inspira confiança. Há aqueles que se referem à alegria, a
malemolência, à empatia... Indica, também, algo que tem a ver com o brejo,
pântano, lodo, lama.
Aquele cãozinho
apareceu no sítio. Sua linhagem indecifrável parece ser uma salada mista de
DNA’s... Chegou pela estrada, sem nome, todo sujo, mas simpático, agradando a
todos, principalmente as meninas... Gostaram dele e ele prontamente as adotou,
como adotou a casa. Proibido de adentrá-la, tratou de se arranjar por ali
mesmo. Logo ganhou um pouco de comida... Não precisou se preocupar com a água
que é abundante no local, tanto para beber como para a higiene... Higiene? Sim,
higiene... Mas esse é o grande problema do agora rebatizado de “Brejeiro” (Mais
pela sujeira que pela simpatia...).
Sucesso imediato,
“Brejeiro”, ganhou a simpatia de todos, inclusive dos visitantes e passou a ser
companhia constante dos demais animais da casa. Quando os cães precisam agir lá
está ele à frente do pelotão! Mas quando vê o tamanho da encrenca logo fica
para trás, só observando o desenrolar dos acontecimentos. Malandragem pura.
Com o passar do tempo
“Brejeiro” foi demonstrando suas qualidades brejeiras. Um exemplo bem
característico de sua personalidade: Como no sítio existem lagos com peixes,
ele pesca e enterra. No final da tarde ele vai ao local onde está o peixe,
desenterra-o e passa a se esfregar naquela coisa estragada. Esfrega-se de um
lado, se esfrega do outro. Volta a enterrar o peixe “fedido” e sai todo
brejeiro e convencido.
Já é noite e
“Brejeiro” vai para o brejo caçar! Sim é verdade. Chegou-se a conclusão de que
ele se suja para confundir sua presa. Ele caça preás, lebres, e outros animais
que vivem por ali. Brejeiro não passa fome!
Como vive sempre sujo,
de vez em quando as meninas resolvem dar-lhe um bom banho. Fazem de tudo:
Xampu, sabonete anti-sarna, talcos, perfumes, fitinhas nas orelhas. “Brejeiro”
tudo permite, passivamente. Quando o serviço termina, ele permanece por ali, à
vista das cuidadosas meninas, mas ma primeira oportunidade lá vai ele para o
brejo e volta todo enlameado novamente. Mas ele tem sua preocupação com a higiene,
pois de quando em vez lá está ele no lago dando seus mergulhos (e se lavando).
Numa confraternização
de Natal ele conseguiu atrair para si todas as atenções. No meio da festa,
todos muito bem arrumados para a “Missa do Galo”, eis que “Brejeiro” aparece na
porta da sala, chorando e com uma pata levantada. Pedia socorro. Logo as
meninas entraram em pânico.
“Brejeiro” foi picado
por uma cobra! Vai morrer! Isso não pode acontecer! Vamos socorrê-lo! E lá se
vai a caravana para salvar o mal acabado do “Brejeiro”. A missa e a festam
ficaram para depois. “Brejeiro” foi salvo.
Hoje vive lá,
praticamente o caseiro. Das quatro meninas, três estão casadas e moram longe. A
solteira estuda em outra cidade. A mãe, ainda que morando lá, está um tempo na
casa de cada filha. O pai, infelizmente faleceu. E “Brejeiro” continua lá com
suas façanhas. A turma se reencontra periodicamente. Fazem a festa e ele fica
igualmente feliz.
... E todos sentem
saudades uns dos outros.
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