Há no coração humano
um espaço que ninguém tem acesso, menos a própria pessoa e Deus. Aliás, esta é,
segundo alguns filósofos, uma das provas que Deus existe.
Portanto, é arriscado
o exercício de adivinhação, do tipo “eu sei o que você está sentindo”. Não, não
sabe... E é uma grande furada dar conselhos sem conhecer mais profundamente a
pessoa, sua história de vida, seus dramas, suas derrotas, suas vitórias, suas
decepções e suas alegrias.
Há muita prepotência e
arrogância espalhadas por aí. Donos absolutos da verdade. Ao impor suas
idéias cometem injustiças e ferem ainda mais o coração sofrido das pessoas.
“Quem vê cara não vê coração”
(Dito popular, autor
desconhecido).
Uma pessoa pode estar
numa roda de amigos, conversando animadamente, mas seus olhos de vez em quando
se perdem no horizonte, deixando transparecer dor, angústia, ansiedade,
sofrimento. Uma vez em casa, é plena de incertezas e seus olhos nadam em
lágrimas. É síndrome do palhaço, que faz a plateía rir, mas seu coração está
partido.
Todas as pessoas são
dignas de um cuidado humanizado e humanizante. É a ética do cuidado. Segundo
Leonardo Boff:
“O cuidado está ligado
essencialmente à vida, pois esta sem o cuidado, não persiste. Daí haver uma
tradição filosófica que nos vem da antiguidade (a fábula-mito 220 de Higino)
que define o ser humano como essencialmente um ser de cuidado. A ética do
cuidado protege, potencia, preserva, cura e previne. Por sua natureza não é
agressiva e quando intervém na realidade o faz tomando em consideração as
conseqüências benéficas ou maléficas da intervenção. Vale dizer, se
responsabiliza por todas as ações humanas. Cuidado e responsabilidade andam
sempre juntos”.
Só podemos pensar em
cuidar da natureza, se aprendemos a cuidar das pessoas, especialmente de quem
está próximo de nós. Cuidar é olhar as pessoas com outros olhos. É sair de si,
abandonar o egoísmo. É partilhar diálogos, tempo, consideração. É saber ouvir.
Em alguns lugares a
miséria está sendo eliminada. Porém, a modernidade gera outras formas de
miséria, de pobreza, tendo como fio condutor a falta de cuidado, o abandono.
Daí sobrevém as mazelas (drogas, vícios, dependências, depressão, doenças
psicológicas).
Portanto, antes de
julgar é preciso saber se estamos imbuídos da ética do cuidado. Por trás de uma
fisionomia calma ou da maquiagem de um palhaço, pode estar uma alma entristecida,
precisando de atenção, de cuidado.
Assim, estamos nos
aproximando da compreensão de parte do mistério do ser e da alma humana.
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