Zona rural... Pequenas
fazendas, sítios e chácaras... Os proprietários, na maioria dos casos, residem
nas cidades e deixam em suas propriedades colonos e empregados que cuidam
principalmente dos animais que são fontes de leite, carnes e rendas
provenientes de compra, venda e trocas.
Mas, há uma
característica fundamental entre as pessoas que trabalham no campo, em especial
nessas propriedades: o sentido de união, de colaboração, de ajuda mútua, de
solidariedade. Parece que os vícios e os defeitos da vida urbana ainda não
chegaram por lá.
A história narrada a
seguir foi baseada em fatos reais, mas os nomes foram trocados...
Jorge e Dito ensilaram
seus cavalos logo de manhã e partiram para as montanhas providenciar transferências
de gado de um pasto para outro. Algo comum na região.
No aminho passaram num
sítio onde Fernando trabalhava e resolveram visitá-lo e, eventualmente, tomar
um café. E assim fizeram.
- Bons dias...
- Ei moçada, que bom vocês por aqui. Cheguem...
Chegaram... Conversa
vai, conversa vem... E sobre a mesa o bule, provavelmente com café. No fogão a
lenha, uma leiteira, onde era visível a quantidade de nata, algo que Dito
detestava.
Jorge, o mais saído,
foi ao ataque...
- E então, Fernando... Tem café naquele bule?
- Tem sim, não é novo (má notícia), mas pode beber. Tem leite na taipa...
E então surgiu o
problema. O café era muito “velho” e o leite fervido várias vezes. Jorge
resolveu topar a parada. Dito, teve muitas dificuldades. Só em ver café muito forte, frio,
envelhecido, de um negrume só e o leite todo engordurado, teve um nó na
garganta e um arrepio no corpo. Mas seguiu o seu amigo no gesto corajoso de
tomarr aquela “mortal explosiva mistura”.
Vale lembrar que Jorge
e Dito, apesar estarem sempre no sertão residem na cidade e onde têm atividades
profissionais e estão pouco afeitos e adaptados às rudezas do sertão... Mas
tentam fazer por onde...
Entre conversas e
risadas os goles de café... E o sofrimento de ambos. Pior era o desarranjo
intestinal que poderia sobrevir. Jorge ria muito por dentro, só em pensar
nessas possibilidades.
Para se ter a ideia da
“qualidade” do café, quando foi colocado no copo (de requeijão), a última gota
escorreu pelo bico do bule como uma geléia ou uma goma qualquer... Colou
literalmente o bule no plástico da mesa. E aquilo foi parar nos estômagos e
intestinos dos amigos visitantes.
A permanência (como de
costume) durou um pouco mais além do tempo necessário para que Jorge e Dito
“saboreassem” o café oferecido por Fernando.
Despediram-se com a
alegria que fundamenta as verdadeiras amizades campesinas... E lá se foram os
amigos montanha acima.
No ritmo do trotear
dos cavalos, o movimento e os ruídos intestinais... A cada árvore, uma
possibilidade de parada...
Fim do dia, sol se
pondo, missão cumprida... Jorge e Dito já estão guardando os arreios...
Portanto, vivos.
Mas o café ficou na
história. E a amizade continuou a mesma...
Imagem: Google
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