segunda-feira, 22 de junho de 2015

ESPERANÇA E DESILUSÃO

Ela nasceu e cresceu no bairro distante. Bonita, bem cuidada, estudou na Escola Estadual e sempre alimentou o sonho de trabalhar no Shopping Center... Buscou os caminhos... Conversou com os professores...

Enquanto concluía o Segundo Grau, tratou de fazer cursos...  Técnicas de  Vendas, Relações Humanas, Informática, Administração, Administração de Pessoal... Vários outros. Sempre motivada, sentia-se preparada para mercado de trabalho...

Até passou por uma experiência no mercadinho do bairro, onde foi caixa. Chegou a pedir um aumento de salário para o proprietário, pois precisava ajudar a sua mãe  comprar uns remédios não fornecidos pela rede pública.

Até que não foi muito agradável essa experiência, pois o patrão lhe disse que o melhor que poderia fazer era demiti-la, uma vez que ser caixa era o cargo de melhor remuneração que existia no estabelecimento. Mas chamou-lhe a atenção para o atendimento, para as relações que ela poderia est4abelecer com os fregueses. Compreendeu o recado....

Tempos depois ela voltou para a sala do patrão, desta vez para pedir o seus desligamento do trabalho. A razão? Um dos fregueses, encontrado com sua desenvoltura e simpatia lhe ofereceu o emprego exatamente no lugar onde mais desejava: no Shopping Center... As suas relações humanas fizeram a diferença... Uma bela vitória de sua determinação. E todos os dias renovava as promessas de ajudar e melhorar a vida de sua mãe...

Porém veio o reverso da medalha...

Trabalhar no Shopping era o seu sonho... Pois este era ( e é) o paraíso moderno, o templo de consumo da no nova religião capitalista.

Deu-se bem com as vendas. Era uma loja de roupas finas, preços elevados, mas que tinha uma clientela cativa. Entusiasmou-se.  Nas horas vagas percorria as demais lojas, ambientando-se com as ofertas, com as tendências da moda, exatamente como aprendera nos cursos que fez.

As portas se abriram e a bela moça, ostentando o crachá da loja foi percebendo que poderia comprar as coisas que tanto sonhava. E para ficar ainda mais bonita.

Blusas, sapatos, saias, vestidos, adereços, lingerie, bolsas... A crédito e sem entrada... Realização quase total dos sonhos de menina...

Finalmente, o tão esperado dia do pagamento... Vendeu bem... Não como as outras colegas de trabalho, mas para quem estava apenas iniciando, o seu desempenho foi acima do esperado. Recebeu um bom dinheiro. Saiu até um pouco mais cedo da loja em que trabalhava, pois precisava honrar os compromissos que assumira durante o mês.

E assim fez. Foi de loja em loja pagando as parcelas “conforme o combinado”. Pouco sobrou, mas estava feliz, muito feliz... Mal conseguia esperar o momento de chegar a casa...

Sua mãe lhe esperava ansiosa... Ela, com um sorriso largo no rosto abraçou a sua mãe, beijou-a e sentaram-se para conversar... Tinham muitos assuntos. De sôfrego, a linda garota sonhadora foi desfilando seus feitos, principalmente o de ter honrado todos os compromissos...

- Mas minha filha, o que sobrou para você me ajudar? Estão aqui a luz, a água, o gás... Ainda não tenho os remédios... Claro o aluguel está pago... Tenho alguma coisa de comida para comprar...

- Puxa vida, mãe... Tinha tanta coisa p’ra pagar... Estou feliz, pois paguei tudo. Sobrou mesmo o dinheiro das passagens...

Então ela começou a entender o funcionamento do Capitalismo Selvagem: quem paga o faz tranquilamente, pois receberá de volta de outros... E todo o dinheiro circulante fica por lá mesmo.



Imagem: Google

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