Ela
nasceu e cresceu no bairro distante. Bonita, bem cuidada, estudou na Escola
Estadual e sempre alimentou o sonho de trabalhar no Shopping Center... Buscou
os caminhos... Conversou com os professores...
Enquanto
concluía o Segundo Grau, tratou de fazer cursos... Técnicas de
Vendas, Relações Humanas, Informática, Administração, Administração de
Pessoal... Vários outros. Sempre motivada, sentia-se preparada para mercado de
trabalho...
Até
passou por uma experiência no mercadinho do bairro, onde foi caixa. Chegou a
pedir um aumento de salário para o proprietário, pois precisava ajudar a sua
mãe comprar uns remédios não fornecidos
pela rede pública.
Até que
não foi muito agradável essa experiência, pois o patrão lhe disse que o melhor
que poderia fazer era demiti-la, uma vez que ser caixa era o cargo de melhor
remuneração que existia no estabelecimento. Mas chamou-lhe a atenção para o
atendimento, para as relações que ela poderia est4abelecer com os fregueses.
Compreendeu o recado....
Tempos
depois ela voltou para a sala do patrão, desta vez para pedir o seus
desligamento do trabalho. A razão? Um dos fregueses, encontrado com sua
desenvoltura e simpatia lhe ofereceu o emprego exatamente no lugar onde mais
desejava: no Shopping Center... As suas relações humanas fizeram a diferença...
Uma bela vitória de sua determinação. E todos os dias renovava as promessas de ajudar e melhorar a vida de sua mãe...
Porém
veio o reverso da medalha...
Trabalhar
no Shopping era o seu sonho... Pois este era ( e é) o paraíso moderno, o templo
de consumo da no nova religião capitalista.
Deu-se
bem com as vendas. Era uma loja de roupas finas, preços elevados, mas que tinha
uma clientela cativa. Entusiasmou-se.
Nas horas vagas percorria as demais lojas, ambientando-se com as
ofertas, com as tendências da moda, exatamente como aprendera nos cursos que
fez.
As
portas se abriram e a bela moça, ostentando o crachá da loja foi percebendo que
poderia comprar as coisas que tanto sonhava. E para ficar ainda mais bonita.
Blusas,
sapatos, saias, vestidos, adereços, lingerie, bolsas... A crédito e sem
entrada... Realização quase total dos sonhos de menina...
Finalmente,
o tão esperado dia do pagamento... Vendeu bem... Não como as outras colegas de
trabalho, mas para quem estava apenas iniciando, o seu desempenho foi acima do
esperado. Recebeu um bom dinheiro. Saiu até um pouco mais cedo da loja em que
trabalhava, pois precisava honrar os compromissos que assumira durante o mês.
E assim
fez. Foi de loja em loja pagando as parcelas “conforme o combinado”. Pouco
sobrou, mas estava feliz, muito feliz... Mal conseguia esperar o momento de
chegar a casa...
Sua mãe
lhe esperava ansiosa... Ela, com um sorriso largo no rosto abraçou a sua mãe,
beijou-a e sentaram-se para conversar... Tinham muitos assuntos. De sôfrego, a
linda garota sonhadora foi desfilando seus feitos, principalmente o de ter
honrado todos os compromissos...
- Mas minha filha, o que sobrou para você me
ajudar? Estão aqui a luz, a água, o gás... Ainda não tenho os remédios... Claro
o aluguel está pago... Tenho alguma coisa de comida para comprar...
- Puxa vida, mãe... Tinha tanta coisa p’ra
pagar... Estou feliz, pois paguei tudo. Sobrou mesmo o dinheiro das
passagens...
Então
ela começou a entender o funcionamento do Capitalismo Selvagem: quem paga o faz
tranquilamente, pois receberá de volta de outros... E todo o dinheiro circulante
fica por lá mesmo.
Imagem:
Google
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