quarta-feira, 5 de março de 2014

FIM DE CARNAVAL... QUARTA-FEIRA DE CINZAS



O Carnaval acabou em cinzas... Em alguns lugares ainda não. O reinado de Momo está chegando ao fim. Agora o ano começa. Voltemos à realidade...

E é de realidade que se referem às “cinzas”, tradição milenar entre os cristãos. Milenar, pois remonta a séculos antes de Cristo.

Porém não vamos tratar das “cinzas” sob o aspecto religioso ou fazer qualquer tipo de proselitismo.  Algumas considerações apenas, tentando trazer os significados delas para a nossa vida.

“Cinzas” remetem a arrependimentos, sacrifícios, punições e castigos. Isso nos primórdios da história do povo judeu. Hoje seus significados estão ligados à condição humana de finitude, de ciclos que se fecham, morte, volta ao nada. Lembra a fragilidade física e a temporaneidade do ser humano, apesar de sua fortaleza espiritual, da grandiosidade de sua capacidade de amar e de construir laços e correntes de amor.

No ritual religioso, as “cinzas” lembram a oportunidade de revisão de vida, de reaproximação com as pessoas, com o sagrado, com os sentidos maiores da existência.

No mundo extra-religioso são importantes os relacionamentos, os laços afetivos, co-dependência, a ajuda mútua, a con-vivência. Ninguém é uma ilha, conforme afirma a filosofia grega. E para que a convivência seja harmoniosa, produtora de paz, os espíritos devem estar desarmados, os corações e braços abertos para a acolhida.

As “cinzas”, simbolizando a caducidade humana, é um forte alerta aos egoístas, aos arrogantes, aos narcisistas, aos auto-suficientes, aos poderosos, aos corruptos e corruptores, aos donos do poder, de que um dia a “casa vai cair” e cada um estará diante do vazio pleno. O ritual diz: "Recorda-te que és pó e ao pó tornarás"... O que sobrará?

Sobrar ou restar? Ficará para a história o que cada um fez para tornar o mundo melhor. Do contrário, como tantos bilhões de humanos que passaram pela terra, será mais um anônimo, cinzas na memória da história, dissipada pela primeira brisa que soprar numa direção qualquer.

Ninguém é obrigado a ir a uma igreja e tomar “cinzas”. É um ritual afeto aos que participam regularmente da vida religiosa. E nem quem brincou o carnaval e está com a consciência pesada precisa ir.  O que importa mesmo é entender o recado desse dia. E tomar uma decisão: ser ou não ser agente da sua própria história e partícipe da história da comunidade onde está inserido. Enquanto é tempo...

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