sexta-feira, 28 de março de 2014

LOUCURA


Os dicionários definem loucura como doença mental, pensamentos anormais, perturbações mentais, insanidade mental, demência, alucinações, delírios, extravagâncias, imprudência, e por aí vai.

Definições formais, socialmente aceitas. Bem, não seriam propriamente controvérsias, mas, digamos, reflexões outras. Podem ser consideradas até opiniões particulares, sem vínculos acadêmicos.  Mas, loucura pode ter outras definições e conotações...

Existem milhões de pessoas doentes mesmo, abarrotando os hospitais psiquiátricos, transformando esses locais em depósitos humanos. Sim, isso é verdade!

A história da humanidade é sempre contada a partir do grupo social dominante. É a sua verdade, a sua vontade, as suas aspirações, que determinam a estrutura e organização das sociedades quanto ao econômico, ao social, ao religioso, ao político. É uma imposição, de cima, goela a baixo. E o que isso tem a ver com loucura?

Acontece que aquelas pessoas dotadas de uma capacidade  de enxergar para além do seu tempo são perigosas para o sistema, isto é, para a estrutura social vigente. Essas pessoas incomodam e precisam ser eliminadas ou acusadas de “loucas”, pois essa “doença” é “perigosa”, “incurável” e “detestada” pela sociedade, que aprendeu desde sempre a rejeitar os “loucos”. Então os regimes autocráticos e autoritários “isolam” essas pessoas perigosas, internando-as em asilos, hospitais, ou simplesmente, como os leprosos, abandonando-as em lugares afastados. Ou matam-nas... Aí fica fácil.

Tratamento de choque, tortura, medicamentos “apropriados” e, então, essas pessoas realmente adoecem, permanecem segregadas, o sistema livre de ameaças e a sociedade em paz.

Esse é um caminho. Outros existiram (e ainda existem).

O apóstolo Paulo chamou de “loucura da cruz”, a morte de Jesus Cristo. Historicamente falando, Jesus assumiu a loucura de contestar e ameaçar os sacerdotes do templo. Estes, temerosos, agiram rápidos e aceitaram logo as acusações contra Jesus e o mandaram matar. Pilatos, fraco e em conluio, “lavou as mãos!”.

Thomas Morus, conhecido como "o homem que não vendeu sua alma", num “ato de loucura” não se converteu ao Anglicanismo, peitou Henrique VIII e foi morto. A igreja Católica o canonizou. Agora ele é santo. 

Joana D’Arc. radicalizou (loucura) seu amor pela pátria e pela Igreja e, como homem, ajudou seu país, a França a derrotar os Ingleses na Guerra dos Cem Anos. Acusada de bruxa morreu na fogueira. A Igreja, reconhecendo a Injustiça, resgatou a sua memória e também a canonizou. Hoje é uma das padroeiras da França.

Muitos e tantos outros radicalizaram e pagaram preços altos por sua “loucura”. Antonio Conselheiro, Gandhi, Luther King Jr, Chico Mendes, Irmã Dorothy, Francisco e Clara de Assis, Mandela. A lista é enorme. Os destinos únicos: a incompreensão do momento, o medo das mudanças, as injustiças sofridas...

Mário Sergio Cortella, em seu livro “Pensar bem nos faz bem!”, citando Paulo Freire, fala na “sã loucura”, aquela que contrastando a doença, faz as pessoas a pensarem e agirem em prol do bem da sociedade.

Altruísmo, visão de futuro, coragem, desapego, heroísmo, profetismo. Assim é possível polemizar dizendo que na verdade os loucos são aqueles que condenam visionários à loucura...

E os dominantes continuam a contar a sua “história oficial”.


Imagem: Google


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