O Carnaval acabou em
cinzas... Em alguns lugares ainda não. O reinado de Momo está chegando ao fim.
Agora o ano começa. Voltemos à realidade...
E é de realidade que
se referem às “cinzas”, tradição milenar entre os cristãos. Milenar, pois
remonta a séculos antes de Cristo.
Porém não vamos tratar
das “cinzas” sob o aspecto religioso ou fazer qualquer tipo de
proselitismo. Algumas considerações
apenas, tentando trazer os significados delas para a nossa vida.
“Cinzas” remetem a
arrependimentos, sacrifícios, punições e castigos. Isso nos primórdios da
história do povo judeu. Hoje seus significados estão ligados à condição humana
de finitude, de ciclos que se fecham, morte, volta ao nada. Lembra a
fragilidade física e a temporaneidade do ser humano, apesar de sua fortaleza
espiritual, da grandiosidade de sua capacidade de amar e de construir laços e
correntes de amor.
No ritual religioso,
as “cinzas” lembram a oportunidade de revisão de vida, de reaproximação com as
pessoas, com o sagrado, com os sentidos maiores da existência.
No mundo
extra-religioso são importantes os relacionamentos, os laços afetivos,
co-dependência, a ajuda mútua, a con-vivência. Ninguém é uma ilha, conforme
afirma a filosofia grega. E para que a convivência seja harmoniosa, produtora
de paz, os espíritos devem estar desarmados, os corações e braços abertos para
a acolhida.
As “cinzas”,
simbolizando a caducidade humana, é um forte alerta aos egoístas, aos
arrogantes, aos narcisistas, aos auto-suficientes, aos poderosos, aos corruptos
e corruptores, aos donos do poder, de que um dia a “casa vai cair” e cada um
estará diante do vazio pleno. O ritual diz: "Recorda-te
que és pó e ao pó tornarás"... O que sobrará?
Sobrar ou restar?
Ficará para a história o que cada um fez para tornar o mundo melhor. Do
contrário, como tantos bilhões de humanos que passaram pela terra, será mais um
anônimo, cinzas na memória da história, dissipada pela primeira brisa que
soprar numa direção qualquer.
Ninguém é obrigado a
ir a uma igreja e tomar “cinzas”. É um ritual afeto aos que participam
regularmente da vida religiosa. E nem quem brincou o carnaval e está com a
consciência pesada precisa ir. O que
importa mesmo é entender o recado desse dia. E tomar uma decisão: ser ou não
ser agente da sua própria história e partícipe da história da comunidade onde está
inserido. Enquanto é tempo...
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