Os dicionários definem
loucura como doença mental, pensamentos anormais, perturbações mentais,
insanidade mental, demência, alucinações, delírios, extravagâncias,
imprudência, e por aí vai.
Definições formais,
socialmente aceitas. Bem, não seriam propriamente controvérsias, mas, digamos,
reflexões outras. Podem ser consideradas até opiniões particulares, sem
vínculos acadêmicos. Mas, loucura pode ter
outras definições e conotações...
Existem milhões de
pessoas doentes mesmo, abarrotando os hospitais psiquiátricos,
transformando esses locais em depósitos humanos. Sim, isso é verdade!
A história da
humanidade é sempre contada a partir do grupo social dominante. É a sua
verdade, a sua vontade, as suas aspirações, que determinam a estrutura e
organização das sociedades quanto ao econômico, ao social, ao religioso, ao
político. É uma imposição, de cima, goela a baixo. E o que isso tem a ver com
loucura?
Acontece que aquelas
pessoas dotadas de uma capacidade de
enxergar para além do seu tempo são perigosas para o sistema, isto é, para a
estrutura social vigente. Essas pessoas incomodam e precisam ser eliminadas ou
acusadas de “loucas”, pois essa “doença” é “perigosa”, “incurável” e
“detestada” pela sociedade, que aprendeu desde sempre a rejeitar os “loucos”. Então os regimes autocráticos e autoritários “isolam” essas pessoas perigosas,
internando-as em asilos, hospitais, ou simplesmente, como os leprosos,
abandonando-as em lugares afastados. Ou matam-nas... Aí fica fácil.
Tratamento de choque,
tortura, medicamentos “apropriados” e, então, essas pessoas realmente adoecem,
permanecem segregadas, o sistema livre de ameaças e a sociedade em paz.
Esse é um caminho.
Outros existiram (e ainda existem).
O apóstolo Paulo
chamou de “loucura da cruz”, a morte de Jesus Cristo. Historicamente falando, Jesus assumiu a loucura de contestar e ameaçar os sacerdotes do templo. Estes,
temerosos, agiram rápidos e aceitaram logo as acusações contra Jesus e o
mandaram matar. Pilatos, fraco e em conluio, “lavou as mãos!”.
Thomas Morus, conhecido como "o homem que não vendeu sua alma", num “ato
de loucura” não se converteu ao Anglicanismo, peitou Henrique VIII e foi morto.
A igreja Católica o canonizou. Agora ele é santo.
Joana D’Arc.
radicalizou (loucura) seu amor pela pátria e pela Igreja e, como homem, ajudou
seu país, a França a derrotar os Ingleses na Guerra dos Cem Anos. Acusada de
bruxa morreu na fogueira. A Igreja, reconhecendo a Injustiça, resgatou a sua
memória e também a canonizou. Hoje é uma das padroeiras da França.
Muitos e tantos outros
radicalizaram e pagaram preços altos por sua “loucura”. Antonio Conselheiro, Gandhi,
Luther King Jr, Chico Mendes, Irmã Dorothy, Francisco e Clara de Assis, Mandela. A lista
é enorme. Os destinos únicos: a incompreensão do momento, o medo das mudanças,
as injustiças sofridas...
Mário Sergio Cortella,
em seu livro “Pensar bem nos faz bem!”, citando Paulo Freire, fala na “sã loucura”, aquela que contrastando a
doença, faz as pessoas a pensarem e agirem em prol do bem da sociedade.
Altruísmo, visão de
futuro, coragem, desapego, heroísmo, profetismo. Assim é possível polemizar
dizendo que na verdade os loucos são aqueles que condenam visionários à loucura...
E os dominantes
continuam a contar a sua “história oficial”.
Imagem: Google
Nenhum comentário:
Postar um comentário